Protestos frente ao Parlamento británico / PAUL HACKETT (REUTERS)
"A expansão, não a contração, é o momento certo para a
austeridade." Assim declarou John Maynard Keynes 75 anos atrás, e ele
tinha razão. Mesmo que você tenha um problema de deficit em longo prazo -e quem
não tem?-, cortar gastos em um período de depressão econômica profunda é uma
estratégia derrotista, porque só serve para agravar ainda mais a depressão.
Por
Paul Krugman, em Folha de S.Paulo (2 de junho de 2012)
Por
que, então, o Reino Unido está fazendo exatamente o que não deveria? Ao
contrário dos governos da Espanha ou da Califórnia, por exemplo, o britânico
pode captar recursos livremente. Assim, por que está reduzindo o investimento e
eliminando centenas de milhares de empregos no setor público, em lugar de
esperar para fazê-lo quando a economia recuperar as forças?
Ao
longo dos últimos dias, fiz essa pergunta a diversos partidários do governo do
primeiro-ministro David Cameron, tanto em conversas privadas quanto na TV. E
todos esses diálogos seguiram a mesma trajetória: começavam com uma má metáfora
e terminavam com a revelação de motivos ulteriores.
A
má metáfora equipara o problema da dívida nacional de uma economia aos
problemas de dívida de uma família individual. Uma família que tenha acumulado
dívidas demais, assim a história diz, precisa apertar os cintos. Portanto, se o
Reino Unido como um todo acumulou dívidas demais, não deveria fazer o mesmo? O
que há de errado nessa comparação?
A
resposta é que uma economia não é uma família endividada. Nossa dívida consiste
principalmente de dinheiro que devemos uns aos outros; ainda mais importante,
nossa renda provém principalmente de vender coisas uns aos outros. Seu gasto é
minha renda, e meu gasto é sua renda.
Assim,
o que acontece se todo mundo reduzir gastos simultaneamente a fim de reduzir
suas dívidas? A resposta: a renda de todos cai.
Quando
o setor privado está se esforçando freneticamente para pagar dívidas, o setor
público deveria fazer o oposto, gastando quando o setor privado não pode ou não
quer fazê-lo. É claro que devemos equilibrar nosso orçamento quando a economia
tiver se recuperado. A expansão, e não a contração, é o momento certo para a
austeridade.
Como
eu disse, nada disso é novidade. Assim, por que tantos políticos insistem em
adotar medidas de austeridade em meio à crise? E por que não mudam de rumo
mesmo depois que a experiência confirma as lições teóricas e históricas?
Assim,
a campanha pela austeridade no Reino Unido não se refere na verdade a dívida e
deficit. Ela só usa o pânico com o deficit como desculpa para desmantelar
programas sociais
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