sexta-feira, 13 de maio de 2011

Prémio Camões 2011

O Prémio Camões 2011 foi atribuído a Manuel António Pina. Poeta, cronista, ficcionista, enfim, escritor. Tenho o livro intitulado Por outras palavras, que reúne crónicas suas. Recomendo.

Recordo uma crónica sua, publicada no Jornal de Notícias em 15 de Julho de 2010:

Título: Uma história mal contada

Noticia o JN que Rui Rio mais os seis vereadores da coligação PSD/CDS que manda na Câmara do Porto chumbaram uma proposta do vereador Rui Sá, da CDU, no sentido de ser atribuído o nome de José Saramago a uma rua da cidade.

Não custa a crer que Rio e os "seus" vereadores estejam a ser injustamente acusados de mesquinhez e que a responsabilidade do sucedido caiba, sim, ao vereador Rui Sá. Com efeito, este terá dado por assente que Rio e o PSD/CDS soubessem quem foi José Saramago, não tendo tido o cuidado de lhes explicar tratar-se de um escritor português recentemente falecido, Prémio Nobel da Literatura (o único Nobel da língua portuguesa).

Se o tivesse feito, decerto Rio exclamaria "Ah, sim? Não me diga!", logo votando favoravelmente a proposta, seguido em ordem unida por todo o pelotão PSD/CDS.

Quando, daqui a uns anos, Rui Rio (quem?) for recordado como um camarário do tempo de Saramago que tentou impedir que o seu nome fosse dado a uma rua do Porto (assim como um tal Sousa Lara ficou conhecido por ter censurado "O Evangelho segundo Jesus Cristo"), era bom que se contasse a história toda.

Mau juiz

“O Tribunal da Relação do Porto considerou que o psiquiatra João Villas Boas não cometeu o crime de violação contra uma paciente sua, grávida de 34 semanas, pois os actos não foram suficientemente violentos, apesar de este forçar a vítima a ter sexo com base em empurrões e puxões de cabelo” (http://sol.sapo.pt/).

Vamos imaginar que o que sucedeu a uma mulher de Trás-os-Montes que se deslocou à Foz (Porto) tinha acontecido à Senhora D.ª Joana Villas Boas (nome inventado) residente na Foz que, numa deslocação a Trás-os-Montes tinha sido obrigada, por um trabalhador rural (cavador) a fazer sexo. Teria sido o cavador transmontano ilibado?

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Enigmas

Há acontecimentos que compreendemos muito depois deles terem ocorrido, muito depois.

Em criança, eu vivia em Mesão Frio, no Douro. Ia com alguma frequência ao Porto. De uma das vezes, teria eu uns 5 anos, íamos de carro pela marginal junto à foz do rio Douro, quando eu disse:

- Havia um farol ali, no meio do rio.

Os meus pais responderam-me que não, que nunca tinha havido. Eu insisti e responderam-me que eu deveria ter sonhado com o farol. Não fiquei muito convencido.

Passados muitos anos, já eu teria uns 30 anos, ia pela Avenida Marginal, em direcção a Cascais, quando vejo o Farol do Bugio. Houve um flash e o enigma resolveu-se 25 anos depois. Eu já tinha visto aquele farol no meio do rio, na foz. Quando tinha 3 anos tinha ido a Lisboa com o meu pai.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O vinho faz bem à saúde!

Título de primeira página do jornal i: “PSD retira 600 milhões de euros à Segurança Social e compensa com aumento de impostos nos vícios”. De que vícios é que estão a falar? Entretanto, diz Passos Coelho que essa compensação é conseguida pelo reescalonamento do IVA.

Para a generalidade das pessoas, isto é linguagem cifrada. Não há dúvida de que o PSD propõe um aumento de impostos que possa conduzir a uma receita de 600 milhões de euros. Mas propõe-se aumentar o quê?

Para chegarmos a alguma conclusão temos de cruzar vícios com IVA. O jornal i dá uma ajuda dizendo que os vícios são o álcool e o tabaco. Tabaco sei o que é mas álcool é o quê? Uísque? Aguardentes? As chamadas bebidas brancas? Não, porque sobre essas bebidas incide a taxa máxima do IVA e o PSD diz que não está a propor o aumento da taxa máxima. Cruzando reescalonamento do IVA com álcool o que obtemos é vinho!!! Actualmente o vinho está taxado a 13%. O que o PSD pretende é que passe a ser taxado a 23%! Aumento de 10 pontos percentuais!

O jornal i tenta branquear este aumento de impostos e diz que beber vinho é um vício. Pois não é! Está cientificamente provado que beber vinho às refeições e com moderação é benéfico para a saúde.

domingo, 8 de maio de 2011

A Escócia será independente. Daqui a quanto tempo?

Penso que é irreversível o processo em direcção à restauração da independência da Escócia. Quinta-feira passada, o Partido Nacional Escocês (SNP) conquistou a maioria absoluta no Parlamento Escocês, que tinha sido restaurado em 1999. O Partido Nacional Escocês, liderado por Alex Salmond, define-se como "pró-independentista moderado e de centro-esquerda". O SNP comprometeu-se, durante a campanha eleitoral, a referendar a independência da Escócia durante o mandato de cinco anos que agora começa. Na página do SNP pode ler-se:

"Scotland is a society and a nation. No one cares more about Scotland's success than the people who live here and that, ultimately, is why independence is the best choice for our future. Independence is about making Scotland more successful. At its most basic, it is the ability to take our own decisions, in the same way as other countries."

O Partido Nacional Escocês comprometeu-se a que, daqui a dez anos, toda a energia eléctrica consumida na Escócia provenha de fontes renováveis, além de que se recusa a aceitar que novas centrais nucleares sejam instaladas na Escócia. Para já, vai reivindicar para a Escócia uma maior porção nas receitas vindas do petróleo e do gás extraídos no Mar do Norte. Talvez esta venha a constituir a maior dificuldade para se concretizar a independência: quem deterá os direitos sobre as explorações offshore de petróleo e de gás?

José Carlos Fernández

Ontem, andava eu de pavilhão em pavilhão, na Feira do Livro de Lisboa quando começei a ouvir alguém a falar espanhol de forma perfeitamente perceptível. Percebia-se que já conhecia suficientemente a língua portuguesa porque evitava aquelas palavras espanholas muito afastadas da sua correspondente em português, dizendo em seu lugar, a palavra portuguesa. Mas não fazia nenhum esforço para aportuguesar a pronúncia. Fez-me lembrar a forma como José Saramago falava espanhol ou Mário Soares fala francês. Fui andando e continuava a ouvir aquela voz mas cada vez mais longe. Quando deixei de perceber o que dizia, voltei para trás e fui-me sentar na plateia frente ao conferencista. Impressionou-me a torrente de palavras, ditas sem hesitações, mas não demasiadamente depressa. A fluidez do discurso era impressionante. Só depois de ter tido esta impressão positiva relativamente ao aspecto formal do discurso, comecei a valorizar o seu conteúdo. Falava de Florbela Espanca e dos poetas em geral.

Fiquei a ouvir até ao fim. Quis saber quem era o conferencista. Era José Carlos Fernández e estava a apresentar o seu livro Florbela Espanca – a vida e a alma de uma poetisa. Muito interessante: não é “a vida e a obra” é a “vida e a alma”. Quando cheguei a casa, fui à net para ver se descobria quem era José Carlos Fernández. Fiquei a saber que é Director da Nova Acrópole de Portugal. No site da Nova Acrópole fiquei a saber que se trata de uma Associação Cultural que se tem "preocupado especialmente com a formação filosófica dos jovens". Aí encontrei a mensagem do Director (José Carlos Fernández) que começa assim:

"Assim como popularmente se diz que os olhos são o espelho da alma, queremos que este sítio na Internet seja como uma janela aberta para a alma daquilo que fazemos. Queremos oferecer, através dela e falando em termos poéticos, os mil e um frutos do “Jardim Encantado da Sabedoria Antiga”. Vida! Saúde! Força Interior! Esta é uma das formas de saudação que encontramos no Antigo Egipto, na sua língua hieroglífica, tão fértil em evocações filosóficas. E isto é o que desejamos do fundo do coração a todos os que visitem este sítio."

Também lá encontrei um excerto do livro que se pode obter aqui.

Bibliotecas Itinerantes

Ontem fui à Feira do Livro de Lisboa. Andei por lá durante quatro horas. Pouco tempo! Valeu a pena, mas tenho de lá voltar. Recordei alguns momentos da minha infância. Estava lá uma carrinha da marca Citröen, revestida a chapa ondulada, com porta lateral de correr, modelo H (chamado “Tubo”). Era uma das muitas furgonetas (já há muito tempo não me ocorria esta palavra) que tinha sido Biblioteca Itinerante. A única diferença era a cor. Esta que pertence à Câmara Municipal de Lisboa é branca. Lembro-me que as da minha infância, que eram da Fundação Calouste Gulbenkian, eram cinzentas. Vivi a minha infância em Mesão Frio, vila, sede de concelho, sem biblioteca. E muitos outros concelhos no país havia sem biblioteca. Creio que a furgoneta aparecia de quinze em quinze dias. Eu requisitava um livro e ficava “obrigado” a lê-lo naquele prazo para requisitar outro no visita seguinte. Os livros tinham etiquetas de diversas cores, em função da faixa etária considerada indicada. Visão simplista! Há livros que são adequados a todas as idades. Estou a lembrar-me da revista Tintim que se considerava a revista para os jovens dos 7 aos 77 anos.

A Câmara Municipal possui carrinhas – veículos de modelos recentes – no activo. Para além dos livros para serem requisitados, possuem computadores com ligação à internet. Actividade meritória!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Miguel Torga no Aljube

Os presos políticos do Estado Novo não foram apenas os que o regime considerava serem "perigosos comunistas". Miguel Torga foi preso no início de Dezembro de 1939 e permaneceu na cadeia do Aljube durante três meses. No dia 1 de Janeiro de 1940 escreveu o poema Ariane:

Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.

Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...

Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre gaivotas que se dão no rio.

Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Stéphane Hessel

Sempre tenho associado o pessimismo e o desânimo à idade avançada. Quando era criança, ouvia a minha avó dizer: "por este andar, eu não sei onde vamos parar", "o mundo está perdido!" e outras frases do género. Mais tarde, foram os meus pais que as disseram. Hoje, quando me passa pela cabeça um pensamento pessimista e de descrédito, pergunto-me: - estás a ficar velho? Bom, vem isto a propósito da entrevista a Stéphane Hessel, publicada no Público de hoje. Diz ele: "Com a idade avançada que já tenho, estou a enviar uma mensagem de confiança, dizendo que os problemas têm solução. Eu conheci muitos problemas que pareciam insolúveis, e que foram resolvidos: o nacional-socialismo, o fascismo, o estalinismo, o colonialismo, o apartheid, a construção da Europa... Tudo coisas que se dizia que eram muito difíceis de resolver. Mas chegámos lá." É um discurso de esperança e de combatividade, que o título do pequeno livro, recentemente publicado, tão bem sintetiza: Indignai-vos! Afirma ainda, naquela entrevista que há duas coisas que considera muito más, sobretudo nas gerações mais novas: a indiferença e o desencorajamento.
Atenção que, em França, já saiu mais um livro seu, com o título Engagez Vous!