terça-feira, 9 de junho de 2015

A arte da ideia

Há uns meses, comprei em Barcelona o livro "El arte de la idea. Y como puede cambiar tu vida" de John Hunt. Obviamente que é uma tradução. O título original é "The Art of the Idea: And How It Can Change Your Life". Comecei a lê-lo agora. Estou maravilhado pela originalidade dos pontos de vista. O livro, além da introdução, contém 20 observações (capítulos). A observação n.º 10: "Abraza la diversidad, te devolverá el abrazo".  A parte final da observação n.º 10: "Además, es mucho más fácil crear algo nuevo si los ladrillos que utilizas son diferentes. Jugar con com ladrillos que sontodos igualeses un juego mucho menos satisfatorio. Unir a gente que ve el mundo de forma distinta crea una alquimia única. La diversidad no quiere un beso volado, espera un buen apretujón. Te sorprenderás gratamente de lo que sucederá después."

sábado, 6 de junho de 2015

A próxima ilha é aquela que amo

Foto de Adam Butler

O barco avança através de uma espessa neblina. A luz do dia é escassa e o frio entranha-se no corpo. Sente-se o cheiro forte a maresia e ouve-se o som dos cagarros. Não há qualquer dúvida: aproximamo-nos de terra. Depois de tantos e tantos dias nas certezas do mar alto, surge a dúvida: como será a estadia naquela ilha? Uma certeza: vou encontrar a natureza em atividade frenética. Estamos no início da primavera e Perséfone já está de novo nos braços de sua mãe.
O vento mudou de direção e a neblina dissipa-se. Já se avista, na linha do horizonte, o perfil montanhoso da ilha. A brisa está forte e o barco avança rapidamente. A ilha é uma mancha escura onde pousaram as estrelas. Avisto os primeiros rochedos, negras pupilas contornadas por íris latejantes de alva espuma. Ao fundo, eleva-se uma parede vertical de rocha vulcânica, qual muralha de castelo flutuante. Lá no alto, a inspiradora Vénus espera uma oportunidade para abençoar o amor.
O dia começa a clarear e vêem-se já linhas de fumo agarradas a pequenas casas. Sinto o cheiro a cedro queimado. Ali, ao centro, três altas araucárias alinhadas, mastros deste navio que, sem descanso, navega no mar. Ouve-se o desassossego matinal dos bandos de pássaros nos verdes prados de cabelo arrepiado pela forte brisa primaveril. Aos primeiros raios de Sol, brilha intensamente a camada de orvalho que cobre o extenso manto vegetal. A serenidade fecunda da natureza emite notas musicais e pode ouvir-se “De povos e terras distantes” de Robert Schumann. Mesmo na minha frente, um ribeiro, engrossado pelas chuvas dos últimos dias, desce apressado do alto da montanha até aos terrenos quase planos que ficam junto ao mar onde, o seu percurso, é marcado pela guarda de honra dos ulmeiros. Sobre a esquerda, à entrada do bosque de cedros, um pequeno grupo de cavalos selvagens comem petúnias multicolores que cobrem o terreno. Eis que surge um a galopar, logo seguido de outro, longas crinas voando livremente ao sabor do vento. Um milhafre solitário voa em largos círculos, coroando a beleza da paisagem. Sinto vontade de mergulhar nesta terra. Se, como disse Diotima, o amor é uma aspiração e uma iniciação no Belo e no Bem, então, eu quero amar esta ilha. Aqui há vida antes da morte!
Depois do barco amarrado ao cais, salto para terra. O chão debaixo dos meus pés vacila. O mar é mais firme do que esta terra devastadoramente fascinante.