domingo, 26 de junho de 2011

A valorização artística de Évora

Hoje, na rotunda junto à Escola EBI/JI da Malagueira, foi inaugurado um elemento escultórico de homenagem ao “Rotary International”.

O seu figurativismo não deixa margem a subjectividades de interpretação. São representados dois homens, em tronco nu, segurando o emblema daquela associação e uma mulher que, por trás, empurra o referido emblema. Devemo-nos congratular por ainda haver, em 2011, quem destaque o papel determinante dos elementos do sexo masculino, sem deixar de reconhecer o papel da mulher como elemento de apoio à acção do homem. O seu estilo artístico, muito próximo daquele a que se dá o nome de “realismo socialista”, tem um carácter retro, que acompanha algumas tendências da moda actual. A referida rotunda ficou muito embelezada e alguns valores - de que tão carecida está a nossa sociedade - são evocados e enaltecidos. Ditosa cidade que tais rotundas possui.

Sinceramente, acho abominável!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Santos venceu!

O Santos conquistou a Taça dos Libertadores da América ao vencer na final o Peñarol (Uruguai) por 2-1. Podemos ver aqui os golos da final.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Giordano Bruno

Foto de Jaime Silva encontrada aqui

Desde 2008, existe na Potsdamer Platz, em Berlim, esta escultura da autoria de Alexander Polzin em homenagem a Giordano Bruno. Num post de Carlos Fiolhais, no blog De Rerum Natura, pode ler-se: "A estátua mostra Bruno de pernas para o ar, sugerindo que há maneiras diferentes de ver o mundo"..."De Giordano Bruno existiam publicadas em Portugal, tanto quanto sei, duas obras: “Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos” (Fundação Gulbenkian, 1998, tradução e notas de Aura Montenegro) e “Tratado da Magia” (Tinta da China, 2007, com tradução e um interessante prefácio de Rui Tavares). Acaba de sair na editora Planeta uma biografia popular do sábio nolano (nasceu em Nola, perto de Nápoles): “Giordano Bruno. O Filósofo Maldito”."..."o cardeal italiano Roberto Bellarmino, que esteve nos processos de Bruno e de Galileu e que foi canonizado pelo Papa Pio XI em 1930 e, a seguir, declarado “Doutor da Igreja”. Outro cardeal do Vaticano, Angelo Mercati, reuniu e publicou em 1940 algumas peças do processo de Bruno, como que justificando a condenação. A Igreja já reviu o processo de Galileu, mas não fez o mesmo para o processo de Bruno. Talvez um dia o reveja, porque o Universo parece ser infinito e provavelmente há mais mundos..."
Num outro post de Carlos Fiolhais pode ler-se:
"Transcrevo algumas citações de Giordano Bruno, escolhidas por Michael White para a entrada ou final de capítulos do seu livro “Giordano Bruno: O Filósofo Maldito” (Planeta, 2008):
“Aquele que deseje filosofar deve antes de mais duvidar de todas as coisas. Não pode tomar parte num debate antes de ter escutado as diversas opiniões, nem antes de avaliar e comparar as diversas opiniões, nem antes de avaliar e comparar as razões contrárias e a favor. Jamais deve julgar ou censurar um enunciado apenas pelo que ouviu, pela opinião da maioria, pela idade, pelo mérito ou pelo prestígio do orador, devendo por consequência agir de acordo com uma doutrina orgânica que se mantém fiel ao real e uma verdade que pode ser entendida à luz da razão.”
“Desejo que o mundo usufrua dos gloriosos frutos do meu trabalho, desejo despertar a alma e abrir o espírito dos que vivem privados dessa luz que, seguramente, não é invenção minha. Se estiver errado, não creio que o faça deliberadamente. E, ao falar e escrever deste modo, não sou impelido pelo desejo de sair vitorioso, pois que reconheço qualquer tipo de fama e conquista como inimigos de Deus, vãs e sem qualquer honra, se não forem verdadeiras; mas, por amor à sabedoria autêntica e num esforço para reflectir com justeza, fatigo-me, sofro, atormento-me”.
“Muito me debati. Julguei poder ganhar... Mas o destino e a natureza reprimiram os meus estudos e o meu vigor. Mas já é alguma coisa ter estado no campo de batalha, pois vejo que conseguir ganhar depende muito da sorte. Porém, fiz tudo o que podia e não creio que nenhuma geração vindoura o possa negar. Não tive medo da morte, jamais cedi perante os meus iguais, com firmeza de carácter, escolhi uma morte corajosa a uma vida de cobardia sem combate”."
Regressando a Berlim. Não podemos dizer "já conheço Berlim". Há sempre alguma coisa que ainda falta ver.

Galileu Galilei

No dia 22 de Junho de 1633, o Tribunal do Santo Ofício pronunciou a sentença de condenação de Galileu Galilei. Após a sua leitura, o réu, de joelhos e vestido com o burel branco dos penitentes, foi obrigado publicamente a recitar e assinar a sua abjuração. (in site do Pólo de Estremoz da Universidade de Évora) Foi condenado porque dizer que a Terra se movia em torno do Sol era uma grande heresia. Com a abjuração lá se salvou da fogueira. Uns anos antes, em 1600, Giordano Bruno foi mesmo queimado vivo por afirmar que a Terra se movia em torno do Sol, defendendo o modelo heliocêntrico. Giordano Bruno tem hoje uma estátua no Campo dei Fiori, lindíssima praça de Roma onde tinha sido assassinado numa fogueira.
Disse José Saramago: "Mas então ninguém percebe que matar em nome de Deus é fazer da Deus um assassino?"

terça-feira, 21 de junho de 2011

Retrato de Van Gogh



Segundo notícia no site do jornal El País: O auto-retrato de Van Gogh afinal é o retrato do seu irmão Theo Van Gogh. Esta foi a conclusão a que chegou o Museu Van Gogh de Amesterdão. A conclusão baseou-se na análise da orelha do retratado, mais redonda do que a de Vincent Van Gogh.

Silêncio quebrado

Manuel António Pina escreveu (publicado no Jornal de Notícias de ontem):

"Ao contrário do que foi dito quando veio a público o escândalo do "copianço" no CEJ, o caso não é "pontual". Acompanhei de perto um curso anterior em que o "copianço" era frequente e a política seguida por certos (insisto: certos) dos então responsáveis do CEJ a de esconder esse lixo debaixo do tapete.

Alguns professores abandonavam as salas durante os testes confiando a vigilância à honestidade de cada formando. O problema era que a honestidade de alguns (hoje nos tribunais a acusar e julgar casos de fraude) nem sempre era a expectável em futuros magistrados.

Existem nos arquivos do CEJ documentos demonstrando o que aconteceu a uma formanda que quebrou a lei da "omertá" e se referiu ao assunto durante um encontro na presença do desembargador coordenador da sua formação. Na sequência disso (decerto por coincidência), passou a ser sujeita a humilhações e discriminações de toda a ordem e "avaliada", em relatórios escritos, por coisas como fumar, almoçar sozinha, ter "pré-juízos" em relação às leis de protecção animal (pois teria gatos) e a direitos de autor (pois publicara obras literárias), culminando tudo num relatório final do mesmo desembargador, feito com base em quatro (repito: quatro) trabalhos, escolhidos a dedo entre os mais de 500 que realizara, que a forçou à desistência.

Talvez a formação de futuros magistrados seja coisa séria de mais para estar entregue a certos actuais magistrados."

domingo, 19 de junho de 2011

A via para o futuro da humanidade

Stéphane Hessel, autor do livro “Indignai-vos” que já vendeu um milhão e meio de exemplares, diz: “Já não é mais tempo para propor a indignação. As próximas obras devem trazer-nos respostas aos problemas que nos indignam”. Hessel elogia o novo livro de Edgar Morin “La Voie”.

A via proposta por Edgar Morin pode resumir-se em sete reformas essenciais para o século XXI:

1. A via da reforma política : política da humanidade e política de civilização

2. A via das reformas económicas

3. A via das reformas sociais

4. A via da reforma do pensamento

5. A via da reforma da educação

6. A via da reforma da vida

7. A via da reforma moral

Léah

Disse José Saramago que nas escolas, em vez do “Memorial do Convento”, devia ser estudado o livro “A Escola do Paraíso” de José Rodrigues Miguéis (JRM).

Perante tal declaração, era urgente ler JRM. O livro que consegui foi “Léah e Outras Histórias”. Já li o conto Léah e gostei muito. O início do conto é magnífico: “Lembro perfeitamente a tarde quieta em que parei à porta da pensão, para tomar um quarto sem refeições: Chambre à louer”. Nesta primeira frase transparece a serenidade e a fluidez que presidem à narrativa. Gostei em particular da forma como JRM nos revela Léah. No início não sabemos se Léah é homem ou mulher. Ficamos a saber que é empregada da pensão na 6ª página de um conto com 29 páginas. A descrição de Léah surge na 9ª página:

“Nessa altura vireime para ti, Léah, e vite: pela primeira vez. A luz das janelas davate em cheio na cara, e reparei que eras bonita, nova e séria. A tua boca entreaberta de espanto, viva e carnuda, mostrava os dentes brancos, delicadamente implantados; os teus olhos redondos, límpidos, cinzentos, miravam com sincero horror a desordem do quarto; os teus seios, fortes e salientes, ainda arquejavam da carreira em que tinhas subido; e no teu pescoço, branco e solidamente afeiçoado, havia um refego delicado e viase latejar uma artéria. Os teus cabelos eram ondulados e dum louroqueimado; e eras quase da minha estatura, rosada, fresca e reluzente como um grande fruto. Tinhas a cintura estreita, e as tuas ancas alargavamse numa curva criadora e firme.”

Acerca de JRM, António José Saraiva escreveu em “Iniciação na Literatura Portuguesa”:

“Mas o seu mundo tem uma comunicabilidade humana que Eça não conheceu, porque não é visto com olho permanentemente crítico, antes com simpatia e comunhão, embora com uma certa distância humorística. Ninguém como ele sabe evocar a Lisboa do princípio do século (XX)…”

Nas notas biográficas contidas na contra-capa do livro "Léah e Outras Histórias" pode ler-se que viveu entre 1901 e 1980, foi Presidente da Segunda Liga da Mocidade Republicana e director do semanário Globo (com Bento de Jesus Caraça); em 1935 expatriou-se para os Estados Unidos, onde viveu até à sua morte, salvo uns quatro períodos de cerca de dois anos cada.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Pierrot le fou

No Diário de Notícias, João Lopes recorda o filme “Pedro o Louco” de Jean-Luc Godard, um dos realizadores da Nouvelle Vague. Também integrados neste movimento, há a destacar: François Truffaut, Alain Resnais, Claude Chabrol, Éric Rohmer e Jacques Rivette. Destes, creio que, com excepção de Alain Resnais, todos pertenciam aos Cahiers du Cinema. E estes críticos de cinema, no fim dos anos 50, inícios de 60, passaram a mostrar como entendiam que se devia fazer cinema. Passo corajoso, já que é sempre mais difícil fazer bem do que dizer o que foi mal feito. Surge um cinema experimental, polémico, amoral, revolucionário, em que são utilizados recursos escassos. Apesar de não ser uma característica deste movimento, às vezes tenho saudades dos longos diálogos, com discussões mais ou menos filosóficas, contidos em alguns daqueles filmes. Conheci este tipo de cinema quando, entre 1971 e 1974, pertenci ao Cine Clube do Porto. Recordo-me de ter visto muitos filmes da Nouvelle Vague, nas sessões que decorriam no Cinema Batalha aos domingos às 11 horas da manhã. Comecei por estranhar ver cinema de manhã mas passei a não dispensar aquela ida ao cinema. Ao domingo tinha de me levantar relativamente cedo mas era por uma boa causa.

Sobre Pierrot le fou, um muito bom texto de Maria João Madeira:

Godard pegou no romance policial de" Lionel White L 'Obsession, em Jean-Paul Belmondo (Ferdinand/Pierrot) e Anna Karina (Marianne Renoir) e pô-los anarquicamente em fuga na direcção do mar como uma espécie de último casal romântico. O filme não segue naturalmente o livro. Nunca assim acontece com os filmes de Godard que já na altura entendia o argumento ponto de partida para um trabalho de liberdade, em que à acção se sobrepusessem as palavras (diálogos, leituras, canções, inscrições nos fotogramas), às imagens os sons, colocando o cinema (e também a política, que o cinema é político segundo ele acreditou) no centro da questão. Neste sentido, Pierrot le Fou (...) é um filme bastante livre.

Narrativamente, questionando o sentido de uma relação entre um homem e uma mulher. Formalmente, à procura de sentidos visuais. No fundo, a passagem do livro de arte Ferdinand lê na banheira no princípio do filme anuncia o programa de Pierrot: "Depois de chegar aos 50 anos, Velasquez já não pintava nada de concreto e preciso. Vagueava pelo mundo material, penetrava-o, como o fazem o ar e o crepúsculo...”

Pierrot não segue uma ordem canónica. Se a "história" é apesar de tudo tradicional (dois amantes que se encontram e se separam, vendo-se entretanto envolvidos num enredo policial onde cabem traficantes de armas, complots e assassínios), a forma de a “contar”, pelo contrário, procede por interrupções, foras de campo ou pela alteração da ordem temporal dos acontecimentos através da montagem. Há vários níveis de leitura, a interferência fragmentária de elementos de ordem diversa. Por exemplo, os planos de pintura ou de banda desenhada ou de palavras. Por exemplo, a aparição a dada altura de um figurante que chega, se apresenta e parte, sem que se saiba de onde veio nem para onde vai, ou o plano em que Ferdinand se vira para a. câmara e se dirige explicitamente ao espectador, como explica a Marianne.

Para além das "pausas", os contrastes são permanentes, também ao nível das cores, sobretudo o azul e o vermelho sempre presentes, marcados pelo imaginário da pop arte. O contraste começa logo na caracterização das duas personagens principais que em resumo se podem definir em termos de contemplação (Ferdinand) e de acção (Marianne). É mais do que neles, no espaço e no tempo que impossibilitam o entendimento entre eles que Pierrot se detém. Afinal, nem conseguem concordar no nome dele... a cada vez que ela lhe chama Pierrot (incitando o seu lado aventureiro?) ele responde, “o meu nome é Ferdinand" (afirmando a sua condição de intelectual?). Afinal, ela preocupa-se mais com a linha da sorte e ele com a da anca dela. É ouvir as canções, as histórias que contam um ao outro e tudo se percebe. É olhar os planos e a explosão final fará tanto sentido como a desconcertante última tirada de Belmondo: "Après tout, je suis idiot, merde, merde".

segunda-feira, 13 de junho de 2011

América corre o risco de um default em Agosto

Segundo o Expresso:
Os chineses e as agências de notação Fitch e Moody's zangaram-se com o Congresso americano. Se o limite de endividamento dos EUA não for aumentado, 30 mil milhões de dólares de títulos do Tesouro que vencem a 4 de agosto podem estar em maus lençóis.
Ainda, segundo o Expresso:
Ao fechar a semana, as probabilidades de default dos quatro países da zona euro sob observação dos mercados sobem sem parar. Espanha sobe para 9º lugar no "clube" da bancarrota.
Interessante a diferença entre a terminologia usada para uns e para outros. Os Estados Unidos da América são os meninos. Os denominados PIGS são os rapazolas. O respeitinho é muito lindo!

domingo, 12 de junho de 2011

Jorge Semprún, republicano

Jorge Semprún foi enterrado perto de Paris envolvido pela bandeira republicana, como era seu desejo: o filho de republicanos exilado em França, desde os 15 anos, foi enterrado neste país com a bandeira do regime a que nunca deixou de pertencer. Cerca de uma centena de pessoas - família e amigos próximos - assistiu à cerimónia. Não houve orações nem ofício religioso. Apenas houve evocações pela parte de quem o quis fazer. Florence Malraux, filha de André Malraux, disse que a melhor homenagem que se podia fazer a Semprún era relê-lo. Pela minha parte, vou ler "Vinte anos e um dia". (post baseado na notícia do El País)

O Mito da Deusa Fortuna

Há dias fui a uma biblioteca pública e a capa do livro "O Mito da Deusa Fortuna" chamou-me a atenção. Folheei-o, li umas frases e apontei o nome e o autor. Tinha decidido comprá-lo. Fui a uma livraria e encomendei-o. Entretanto, comprei um outro que existia disponível: "Deixa-me Que te Conte". É neste último que entre muitos outros está o conto "O Elefante Acorrentado". Ontem fui buscar o livro que tinha encomendado. É um livrinho que se lê em algumas horas. A tradução do espanhol podia ser mais clara. Os espanhóis utilizam a palavra azar, geralmente, com o significado de acaso. Para nós a palavra também tem esse significado - por exemplo, quando falamos em "jogos de azar" - mas, em geral, utilizamo-la com o significado de má sorte. Ora, no livro a palavra azar é utilizada muitas vezes com o sentido de acaso, o que para nós é um pouco estranho.
O livro é muito saboroso. Magníficas as ilustrações de José Luis Merino. Jorge Bucay é psiquiatra e psicoterapeuta mas este livro é, essencialmente, filosófico, divagando o autor à volta dos conceitos de: sorte, azar, destino. O texto está recheado de alegorias que nos fazem sorrir e tornam mais fácil o acompanhamento da discussão à volta destes conceitos abstractos.
Os três desejos explícitos dos autores são: que o livro faça o leitor sorrir, que o leitor goste de o ler e que lhe seja útil. Em jeito de conclusão, escreve o autor que, para que tenhamos sorte, devemos: promover o encontro com a Deusa Fortuna, reconhecê-la quando se aproxima e saber como proceder após a sua captura.

12 fogonazos de bella agonia

No El País, um pouco da história da "bela agonia":

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Parabéns João Gilberto!

Hoje, João Gilberto completa 80 anos. Parabéns!
João Gilberto teve uma grande importância na criação da bossa nova. O seu disco Chega de Saudade (a música com o mesmo nome pode ser ouvida aqui), lançado em 1959, é considerado o marco fundador da bossa nova. Claro que a bossa nova não foi criada por uma só pessoa. São muitos os que contribuíram para o surgimento da bossa nova. Citando alguns: Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Candinho,Roberto Menescal, Carlos Lyra, João Gilberto, Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, Baden Powell e muitos outros.
Mas qual será a origem do nome "bossa nova". Segundo Sóstenes Barros, "
a palavra bossa era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos cinquenta , significava: jeito, maneira, modo. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que esse alguém tinha bossa. Se o Ricardo desenhava bem, dizia-se que tinha 'bossa de arquiteto'. Se o Paulo escrevia, redigia bem, tinha 'bossa de jornalista'. E a expressão 'Bossa Nova' surgiu em oposição a tudo o que um grupo de jovens achava superado, velho, arcaico, antigo." Na bossa nova há, de certo modo, uma fusão do samba com o jazz.
Este movimento de renovação da música popular brasileira não surge isoladamente. Em 31 de Janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek tinha tomado posse como Presidente do Brasil. Com o slogan "50 anos em 5", ou seja 50 anos de desenvolvimento económico em 5 anos de governo, levou a cabo grandes transformações no Brasil, com industrialização, grande desenvolvimento e grandes obras, das quais se destaca a fundação de Brasília. Muito interessante o discurso de Juscelino Kubitschek na inauguração de Brasília (21 de Abril de 1960), no qual faz uma alusão a André Malraux. É neste quadro que surge a bossa nova como movimento de renovação da música popular brasileira, ocorrendo fenómenos idênticos na literatura, no teatro, no cinema ("cinema novo"), nas artes plásticas ("movimento neoconcreto").

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Jorge Semprún melómano

Jorge Semprún, cidadão, escritor, testemunha do século XX, homem da cultura, era um melómano.

Admirava, por exemplo, a música de Jean Baptiste Lully (1632 – 1687). Podemos ouvir:

Marche pour la cérémonie des Turcs

Aqui, uma cena com Gerard Depardieu interpretando o compositor Marin Marais, no filme "Todas as manhãs do mundo", do realizador Alain Corneau. A direcção musical foi de Jordi Savall.

Perú capital Lisboa

Por: Ramón Lobo

¿Efecto mariposa, vasos comunicantes, ying y yang, casualidades informativas..? En Portugal ha ganado la derecha, que por razones tal vez publicitarias se llama Partido Social Demócrata. Su líder,Pedro Passos Coelho, será el encargado de aplicar el durísimo ajuste económico aprobado por la Unión Europea y el FMI y que dejará en el andamiaje al Estado de bienestar. Malos tiempos para Portugal que en los asuntos de envergadura, como el del 25 de abril, siempre se anticipa a España.

El mismo día, al otro lado del mundo, más allá del océano Atlántico y los Andes venció Ollanda Humalaen las elecciones presidenciales de Perú. El líder de la izquierda que ha logrado imponer su imagen del nuevo Lula frente a los que le veían y le ven como el nuevo Hugo Chávez.

Uno de sus rivales, Mario Vargas Llosa, votó a ese Lula; mientras llega, promete vigilancia.

La victoria de Humala representa lo contrario que la de Passos Coello; Perú ha elegido descansar de tanto ajuste, de tanto 'lo que digan los mercados' y de tanta macroeconomía que provoca aplausos en el exterior pero que no llena los bolsillos de la mayoría de los peruanos.

Dos opciones, una misma crisis, es la democracia: la capacidad que tienen los ciudadanos de optar entre opciones diferentes y diferenciadas. Cuando las opciones se copian surge un 15M, Humala, alguien que escucha.

Democracia, como explica José Saramago, es la capacidad de empujar a la máquina en dirección contraria a la que quiere la máquina.

La victoria de Humala desempolva la escenografía de la izquierda latinoamericana a la que tanto daño ha hecho alguna izquierda latinoamericana, como la chavista: carteles, música, ilusión...

El tiempo dirá donde termina la esperanza, las promesas, todo lo que hoy se percibe revolucionario. La viñeta de Raúl Barbolla, que cierra el post, recoge este peligro: los 'mercados' acaban engullendo todo, incluso el antimercado si es que ofrece posibilidades de negocio.

(publicado no blog de El País: Aguas Internacionales)

Às vezes, de fora vê-se mais claramente do que de dentro.

Muito bem observado: "Em Portugal, a direita, talvez por razões publicitárias, chama-se Partido Social Democrata".

Custa-me muito ter de ouvir José Saramago dobrado em castelhano.

Com a informação social que temos em Portugal, tenho, sem dúvida, de aperfeiçoar o meu castelhano.

Jorge Semprún

Fotografia da autoria de Gorka Lejarcegi (2001)

"Cae la noche, la cuarta; la noche despierta los fantasmas. En la negra turbamulta del vagón, los hombres se vuelven a encontrar a solas con su sed, con su angustia y su cansancio. Se ha hecho el silencio. (...) Pero todavía estamos en la hora turbia de los recuerdos. Suben a la garganta, ahogan, debilitan la voluntad. Expulso los recuerdos. Tengo veinte años, mando a la mierda los recuerdos. Hay otra solución también. Es aprovechar este viaje para seleccionar. (...)

Lo que más pesa en tu vida son los seres que has conocido. Lo comprendí esa noche, de una vez para siempre. Dejé escapar cosas ligeras, agradables recuerdos, pero que sólo se referían a mí. Un pinar azul en el Guadarrama. Un rayo de sol en la calle de Ulm. Cosas ligeras, repletas de una dicha fugaz pero absoluta. Digo bien, absoluta. Pero lo que más pesa en tu vida son algunos seres que has conocido. Los libros, la música, es distinto. Por enriquecedores que sean, no son nunca más que medios de llegar a los seres. Cuando lo son de verdad, claro está. Los otros, al final, te resecan".

Jorge Semprún en El largo viaje (publicado no site de El País)

Eu sublinho: "O que pesa mais na tua vida são os seres que conheceste"

terça-feira, 7 de junho de 2011

O elefante acorrentado

— Não consigo — disse-lhe. — Não consigo!

— Tens a certeza? — perguntou-me ele.

— Tenho! O que eu mais gostava era de conseguir sentar-me à frente dela e dizer-lhe o que sinto… Mas sei que não sou capaz.

O gordo sentou-se de pernas cruzadas à Buda, naqueles horríveis cadeirões azuis do seu consultório. Sorriu, fitou-me olhos nos olhos e, baixando a voz como fazia sempre que queria que o escutassem com atenção, disse-me:

— Deixa-me que te conte…

E sem esperar pela minha aprovação, o Jorge começou a contar.

Quando eu era pequeno, adorava o circo e aquilo de que mais gostava eram os animais. Cativava-me especialmente o elefante que, como vim a saber mais tarde, era também o animal preferido dos outros miúdos. Durante o espectáculo, a enorme criatura dava mostras de ter um peso, tamanho e força descomunais… Mas, depois da sua actuação e pouco antes de voltar para os bastidores, o elefante ficava sempre atado a uma pequena estaca cravada no solo, com uma corrente a agrilhoar-lhe uma das suas patas.

No entanto, a estaca não passava de um minúsculo pedaço de madeira enterrado uns centímetros no solo. E, embora a corrente fosse grossa e pesada, parecia-me óbvio que um ani mal capaz de arrancar uma árvore pela raiz, com toda a sua força, facilmente se conseguiria libertar da estaca e fugir.

O mistério continua a parecer-me evidente.

O que é que o prende, então?

Porque é que não foge?

Quando eu tinha cinco ou seis anos, ainda acreditava na sabedoria dos mais velhos. Um dia, decidi questionar um professor, um padre e um tio sobre o mistério do elefante. Um deles explicou-me que o elefante não fugia porque era amestrado.

Fiz, então, a pergunta óbvia:

— Se é amestrado, porque é que o acorrentam?

Não me lembro de ter recebido uma resposta coerente. Com o passar do tempo, esqueci o mistério do elefante e da estaca e só o recordava quando me cruzava com outras pessoas que também já tinham feito essa pergunta.

Há uns anos, descobri que, felizmente para mim, alguém fora tão inteligente e sábio que encontrara a resposta:

O elefante do circo não foge porque esteve atado a uma estaca desde que era muito, muito pequeno.

Fechei os olhos e imaginei o indefeso elefante recém-nascido preso à estaca. Tenho a certeza de que naquela altura o elefantezinho puxou, esperneou e suou para se tentar libertar. E, apesar dos seus esforços, não conseguiu, porque aquela estaca era demasiado forte para ele.

Imaginei-o a adormecer, cansado, e a tentar novamente no dia seguinte, e no outro, e no outro… Até que, um dia, um dia terrível para a sua história, o animal aceitou a sua impotência e resignou-se com o seu destino.

Esse elefante enorme e poderoso, que vemos no circo, não foge porque, coitado, pensa que não é capaz de o fazer.

Tem gravada na memória a impotência que sentiu pouco depois de nascer.

E o pior é que nunca mais tornou a questionar seriamente essa recordação.

Jamais, jamais tentou pôr novamente à prova a sua força…

— E é assim a vida, Damião. Todos somos um pouco como o elefante do circo: seguimos pela vida fora atados a centenas de estacas que nos coarctam a liberdade.

Vivemos a pensar que «não somos capazes» de fazer montes de coisas, simplesmente porque uma vez, há muito tempo, quando éramos pequenos, tentámos e não conseguimos.

Fizemos, então, o mesmo que o elefante e gravámos na nossa memória esta mensagem: «Não consigo, não consigo e nunca hei-de conseguir.»

Crescemos com esta mensagem que impusemos a nós mesmos e, por isso, nunca mais tentámos libertar-nos da estaca.

Quando, por vezes, sentimos as grilhetas e as abanamos, olhamos de relance para a estaca e pensamos:

Não consigo e nunca hei-de conseguir.

O Jorge fez uma longa pausa. Depois, aproximou-se, sentou-se no chão à minha frente e prosseguiu:

— É isto que se passa contigo, Damião. Vives condicionado pela lembrança de um Damião que já não existe, que não foi capaz.

»A única maneira de saberes se és capaz é tentando novamente, de corpo e alma… e com toda a forca do teu coração!

Jorge Bucay

sábado, 4 de junho de 2011

Jorge Bucay

"Existem três categorias de pessoas:
Uma, a que, quando tem frio oferece toda a sua roupa de agasalho.
Outra, a que, quando sente frio, veste a sua roupa de agasalho.
E uma terceira que, quando sente frio, acende uma fogueira para se aquecer a si mesma e a todos os que queiram desfrutar do calor.
A primeira pessoa é suicida: irá morrer de frio.
A segunda é miserável: irá morrer sozinha.
A terceira é um ser humano normal, adulto e egoísta (acende a fogueira porque ele tem frio).
Eu quero ser aquele que acende milhares de fogueiras e, mais ainda, quero ser o que ensina milhares de seres humanos a acender fogueiras."
Jorge Bucay

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Carlos Kleiber

Carlos Kleiber foi considerado o maior maestro de todos os tempos por uma selecção de 100 dos mais importantes maestros da actualidade. A votação foi organizada pela BBC Music Magazine. Pode ler-se aqui a notícia.

Kleiber nasceu na Áustria em 1930 e passados poucos anos a família emigrou para a Argentina, vítima da perseguição nazi. Faleceu em 2004 e encontra-se sepultado na Eslovénia.

Na votação recentemente realizada (Março de 2011), ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente, Leonard Bernstein and Claudio Abbado.

Era considerado um perfeccionista e ,assim, não foram muitas as suas direcções de orquestra: 96 concertos e cerca de 400 óperas.

Podemos vê-lo aqui a dirigir obras de Strauss.

Kleiber dirige a orquestra, ou melhor, ele dirige todos os elementos da orquestra e além de dirigir com a batuta, dirige com todo o seu corpo. Impressionante!