quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Não nos iludamos, o Islão não se converterá ao nosso modelo e é ilusão pensar que o está fazendo


Muito lúcida a análise feita por Eduardo Lourenço, relativamente às revoluções islamistas, que foi objecto de artigo no Público de 21 de Fevereiro (segunda-feira).

Alguns excertos que não dispensam a leitura de todo o artigo.

“No fundo, a nossa euforia e natural alegria com o Abril islâmico, vendo bem, é uma versão inconsciente da eterna vocação de querer “converter” ou ilustrar os famosos infiéis.”

“Não nos iludamos, o Islão não se converterá ao nosso modelo e é ilusão suma pensar que o está fazendo. Porque o faria? Porque perderia o que ele pensa ser a sua alma e em troca de quê?”

“... a recente acção politica e guerreira dos Estados Unidos – ampliando a nossa – converteu o espaço islâmico em espaço privilegiado da sua acção no mundo. Ou melhor, da sua politica de vocação universal, como vencedor incontestável da II Guerra Mundial, substituindo o clássico imperialismo inglês em nome do seu democratismo messiânico. Quer dizer, dos seus interesses, assumidos como sendo os da própria Democracia. Do Irão de Mossadegh ao Iraque de Saddam Hussein, essa política justificada por imperativos vitais (petróleo) ao serviço da maior democracia do Ocidente afastou-nos e alienou-nos ainda mais desse mundo islâmico. Entre a osmose com Israel e a aliança privilegiada com a Arábia Saudita ficava hipotecada a nossa mais antiga e sempre difícil relação com o Islão. E assim se mantém.”

"Em suma, rebelaram-se, em função de valores e referencias próprias, de uma cultura de que são orgulhosos, ética e religiosamente não contestada, por impensavelmente incontestável.”

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