Neste momento, Portugal está sensivelmente como estava a Grécia há um ano. A Espanha está como Portugal estava há um ano. A Itália e a Bélgica estão logo a seguir e a Irlanda está lá pelo meio. O que é que se está a passar? Comecemos com a situação em Portugal.
No dia seguinte à sua vitória eleitoral, Passos Coelho declarou à Reuters: ”Governo pode ir além das medidas da troika”. Constituído o governo, o seu programa foi discutido na Assembleia da República e, logo a seguir, acontece o “murro no estômago”: a agência Moody’s cortou o rating de Portugal em quatro níveis. O programa de governo não tranquilizou os mercados. A situação tem algo de patético: os acólitos dos mercados revoltaram-se por verem a sua confiança (nos mercados) traída. Levantou-se um coro de vozes diabolizando a Moody’s. Vale a pena lembrar que aquele que nunca se engana e que raramente tem dúvidas tinha afirmado, há uns meses, que “não vale a pena recriminar as agências de rating”. Concordo. O que é preciso é fazer o diagnóstico da situação e definir a terapêutica adequada. Está a haver uma crise de confiança nas economias mais débeis da zona euro. As agências de notação ao baixarem o rating de um país, estão a transmitir que existe um maior risco desse mesmo país não cumprir os compromissos assumidos perante os seus credores. Se o risco de incumprimento for muito grande, o preço do dinheiro será muito elevado. Portugal precisa de se financiar, em primeiro lugar para fazer face ao défice da sua balança comercial. De facto, Portugal importa muito mais do que aquilo que exporta e precisa de dinheiro para compensar esse défice. Então, o essencial da solução consiste em exportar mais e importar menos. Vivemos numa economia aberta e ninguém, actualmente, defende (creio eu) uma política proteccionista que se poderia sintetizar como uma atitude de “orgulhosamente sós”.
Em Março passado, Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia, escreveu que Portugal cometia um erro ao reduzir a despesa pública quando existe um desemprego elevado. Segundo ele, "a estratégia correcta seria (criar) empregos agora, (reduzir) défices depois".
Krugman entendia que estão errados "os advogados da austeridade que prevêem que os cortes da despesa trarão dividendos rápidos na forma de uma confiança crescente e que terão pouco, se algum, efeito adverso no crescimento e no emprego".
Justificou a preferência pelo adiamento da redução do défice com o argumento de que "os aumentos dos impostos e os cortes na despesa pública deprimirão ainda mais as economias, agravando o desemprego".
Acrescentava, a este propósito, que "cortar a despesa numa economia muito deprimida é muito auto-derrotista, até em termos puramente orçamentais", uma vez que "qualquer poupança conseguida é parcialmente anulada com a redução das receitas, à medida que a economia diminui".
Entretanto, o que está a acontecer na Grécia confirma esta visão. A Grécia, durante o primeiro ano de intervenção do FMI, BCE e Comissão Europeia, aumentou a sua dívida, apesar das medidas tomadas e indicadas por aqueles organismos. Este é o desespero dos gregos: são pedidos sacrifícios para se atingir um determinado objectivo e esse objectivo está cada vez mais distante. Objectivamente, a Moody’s tem um entendimento semelhante e, tudo indica, considera que o doente (Portugal) pode morrer da cura.
Neste momento, Portugal tem de concretizar os compromissos que assumiu com a troika, a troco do dinheiro que lhe foi emprestado. Mas, querer aplicar medidas ainda mais pesadas do que as indicadas pela troika, é um erro.
E tenhamos a consciência de que a crise não se resolve em Portugal. O caminho trilhado pela Europa é um caminho original. Nunca um conjunto de países, politicamente não unidos, tinham criado uma moeda única. Mas se o caminho é original tem de ser trilhado com originalidade. Não podemos proceder como de costume porque senão temos uma surpresa. A que estamos a ter é bem desagradável. E a Europa não está a agir adequadamente, limita-se a reagir. São convocadas reuniões de emergência todas as semanas. A Europa anda a reboque dos acontecimentos e devia agir por antecipação.
Há duas soluções para a actual crise: ou o euro desaparece ou os países da zona euro passam a ser solidários entre si. Claro que esta solidariedade tem de se basear no cumprimento de regras. Isto é: só é possível solidariedade com partilha de soberania. Podemos fazer um paralelismo. Em Portugal há regiões mais desfavorecidas do que outras. Há solidariedade nacional, através da qual as regiões mais ricas apoiam as regiões mais pobres. Isto acontece porque há uma identidade nacional. Só com uma identidade europeia, com solidariedade europeia e com partilha de soberania é possível sair da actual crise. Não adianta chorar porque os mercados não se vão comover porque não têm sentimentos. Se a crise que existe é uma crise de confiança há que dar garantias que contrariem essa desconfiança.
Em conclusão: precisamos de uma Europa Unida para ultrapassar esta crise.
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