Pergunta: Retomando uma questão que serviu de título a um dos seus livros: “Où est passé l’avenir?”
Resposta: No pequeno livro a que se refere, esse título remetia para o facto de já não ousarmos falar do futuro. Depois das grandes utopias do século XIX, não nos atrevemos a fazer esse tipo de projeções. Talvez a última grande narrativa seja a narrativa liberal, de Fukuyama, essa ideia de que a combinação do mercado liberal com a democracia representativa é uma fórmula que triunfou por todo o lado e se tornou indiscutível. Mas não é verdade, há países que pertencem a este mercado mas não democráticos. E, alem disso, a perspetiva que temos hoje permite-nos perceber que as coisas não vão necessariamente no sentido de uma democracia generalizada, mas no sentido de uma oligarquia planetária. É talvez por isso que perdemos a possibilidade de falar do futuro. E a nossa consciência atual de que o planeta é uma pequeníssima coisa num universo de uma grandeza que nem sequer conseguimos conceber provoca-nos muito mais a angústia pascalina dos espaços infinitos do que a vontade de imaginar o futuro.
(extracto da entrevista a Marc Augé publicada no suplemento Atual do Expresso de 23 de Julho)
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