sábado, 30 de julho de 2011

"Lavagante" de José Cardoso Pires

Desenho a carvão da autoria de João Abel Manta, 1981
Para Manuel Frias Martins, Lavagante é uma obra menor de José Cardoso Pires mas que tem o mérito de permitir reconstituir o método de trabalho e um momento do processo criativo do escritor, entre 1963 — ano de Jogos de Azar e O Hóspede de Job e, segundo tudo indica, 1968, quando sai O Delfim. José Cardoso Pires não publicou o livro em vida talvez pelo seu perfeccionismo e pela necessidade de se concentrar na escrita de O Delfim. A metáfora do Lavagante é extraordinária:
«o lavagante é principalmente um animal de tenebrosa memória, paciente e obstinado, e terrível nos seus desígnios. Contei-lhe como ele serve o safio que está nas tocas submersas levando-lhe comida a todas as horas, e como a sua existência anda presa a essa serpente estúpida de grandes sonos, vendo-a engordar, engordar, até saber que a tem bloqueada, incapaz de sair do buraco porque o corpo cresceu de mais, enovelou-se, e não cabe na abertura por onde podia libertar-se. “Nesse momento, fica sabendo, o lavagante servil aparece à boca da toca do safio mas já não traz comida. Vem de garras afiadas devorar o grande prisioneiro que alimentou durante tanto tempo.”».

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