terça-feira, 1 de março de 2011

O fruto inteiro

Retrato de Miguel Torga a carvão da autoria de Isolino Vaz

Hoje, lembrei-me de uma história que mostra que quando é possível ir mais longe se fica, muitas vezes, a meio caminho ou por falta de esforço ou por falta de talento. Todos conhecemos a música My Way e associamo-la à interpretação de Frank Sinatra. O que poucos saberão é que My Way é a versão para a língua inglesa de um original francês Comme d’habitude. Normalmente a versão para uma outra língua é uma sequela de segunda qualidade. Aqui, de segunda qualidade é o original. Quem interpretou e participou na composição de Comme d’habitude foi Claude François que morreu, ingloriamente, em 1978, quando tinha 39 anos, electrocutado por lhe ter escorregado das mãos o secador com que secava o cabelo enquanto estava dentro da banheira.

A propósito de não ficar a meio caminho, escreveu Miguel Torga o poema intitulado Sísifo:

Recomeça...

Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,

Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar

E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga, Diário XIII

Ao mito de Sísifo e à, pelo menos aparente, contradição entre a 1ª e 2ª parte deste poema, valerá a pena voltar.

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