sábado, 19 de março de 2011

"Pessoas de qualidade"

"Fidalgo", século XVIII, desenho de Zé da Sé, 11 anos, 6º/E, escola Padre Abílio Mendes, ano lectivo de 2004/05

O terramoto e tsunami de 1755 provocaram, em Lisboa, 15 mil mortos, dos quais, segundo relato da época, só “oito pessoas de qualidade”, escreve José Cutileiro (Expresso de hoje). Ainda não tinham soprado os ventos da Revolução Francesa (1789) e, de resto, só uma ínfima minoria sabia ler, pelo que, quem escrevia estava à vontade porque a “populaça” não tinha acesso ao que era escrito. Hoje, é preciso mais cuidado com o que se escreve.

Há dias, ouvimos Cavaco Silva dizer: “Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos” (discurso de tomada de posse). Por sua vez, Passos Coelho disse: o (meu) partido está preocupado com a situação social existente em Portugal e que o novo pacote de austeridade vem piorar o cenário”. ”(declarações à saída da reunião com Cavaco Silva).

Podemos concluir que Passos Coelho, se fosse primeiro-ministro, não implementaria mais qualquer pacote de austeridade e, nesse aspecto, seria apoiado por Cavaco Silva.

Mas não nos precipitemos. Acrescentou Passos Coelho: “Se a dramatização do tudo ou nada que o Governo está a fazer tem fundamento, significa que a verdadeira situação que o país atravessa é diferente daquela que têm dito ao país”. Não é difícil compreender o caminho que está a preparar. Se chegar ao poder, a primeira coisa que afirma é: “a situação do país é muito pior do que aquilo que nos andaram a dizer” (como se fosse possível mascarar a situação real com os holofotes da Europa e do Mundo apontados para nós). A seguir, já estaria à vontade para tomar as medidas de austeridade com que agora diz que discorda e muitas outras.

Há ainda a possibilidade de que tanto Cavaco Silva como Passos Coelho estejam a ser sinceros por se estarem a referir apenas aos cidadãos “de qualidade” (os tais 8 em 15000).

Uma forma de podermos perceber as verdadeiras intenções da direita é lermos o que escreveu José António Saraiva, director do Sol, na edição de ontem deste jornal: “E a ironia é que as medidas que o Governo propõe são aquelas que o PSD terá de pôr em prática no dia em que for poder”. E continua: “O país precisa de um abanão, com opções claras, postas em prática por um Governo corajoso e que não tema a contestação sindical”.

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