Ouvimos, todos os dias, comentários acerca das medidas de austeridade adoptadas pelo governo. A posição mais cómoda e mais facilmente aplaudida (todos nós preferimos ouvir aplausos a ouvir apupos) é de frontal oposição. Uma posição um pouco mais sensata será dizer que é preciso fazer algo, inclusive implementar medidas de austeridade, desde que essas medidas só afectem os outros. Também se ouve dizer que a culpa é da moeda única e, sendo muito poucos, há quem preconize que Portugal saia do euro e adopte de novo o escudo como moeda. De facto, se a nossa moeda fosse o escudo o problema económico que está a acontecer resolvia-se facilmente com a desvalorização da moeda. No passado isso aconteceu. O que representa desvalorizar a moeda? Representa, fundamentalmente, tornar os produtos importados mais caros para nós e os produtos exportados mais baratos para os estrangeiros. Como consequência, inevitavelmente, implicará um aumento da taxa de inflação e um aumento das taxas de juro. O que é que isso implicaria para nós? O dinheiro que possuímos passaria a valer menos! De facto, seria uma forma camuflada de reduzir os nossos ordenados. Quem tem um empréstimo bancário a pagar, seria duplamente prejudicado: passaria a ganhar menos e passaria a ter de pagar mais ao banco pelo empréstimo contraído. Não tenho qualquer dúvida: abandonar a moeda única (euro) ainda iria piorar a nossa situação.
Podemos arranjar um bode expiatório para o que está a acontecer. Quanto mais perto esse bode expiatório estiver de nós, melhor: assim, estando próximo, está à mão de semear – até lhe poderemos dar umas surras ou, pelo menos, encostar-lhe um megafone aos ouvidos. De facto, o cerne da questão não está em Portugal mas na Europa e no euro. Não estou a dizer que a Europa é que tem de resolver os nossos problemas mas sim que temos de olhar para mais longe – e não só para o nosso quintal – para percebermos o que nos está a acontecer.
Está a acontecer um ataque especulativo à zona euro. Esse ataque tem começado pelos elos mais fracos: Grécia, Irlanda e, a seguir, posiciona-se Portugal. Esse ataque tem surtido efeito porque a solidariedade europeia não tem sido suficiente. Mas para se conseguir uma maior solidariedade, nomeadamente da Alemanha, é necessário que os alemães não sintam que estão a querer usar a riqueza por eles gerada para que outros levem uma vida melhor do que a deles. Por exemplo, como é possível obter solidariedade dos alemães para com um país onde a idade de reforma é inferior à deles? Para se conseguir a necessária solidariedade europeia é preciso estabelecer regras comuns que todos sejam obrigados a cumprir. Há dias, foi publicado no Finantial Times um artigo da autoria de Guy Verhofstadt, Jacques Delors e Romano Prodi onde esta questão é colocada muito claramente. Trata-se de aprofundar a União Europeia – creio que, de facto, a União Europeia está a precisar de um aprofundamento e não de um alargamento. O que se não pode é clamar pela solidariedade da Europa para connosco e rejeitar regras comuns intitulando-as como ingerência nos assuntos internos e de perda de soberania nacional. Eu aposto, sem hesitar, em Mais Europa.
Sem comentários:
Enviar um comentário