quinta-feira, 29 de março de 2012

Millôr Fernandes

Frases de Millôr Fernandes:

"Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito"

"Um homem começa a ficar velho quando já prefere andar só do que mal acompanhado"

"Viver é desenhar sem borracha"

"Quem mata o tempo não é assassino mas sim um suicida"

"Não devemos resisitir às tentações: elas podem não voltar"

Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.

"Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus"

"Pais e filhos não foram feitos para ser amigos. Foram feitos para ser pais e filhos"

"O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde"

"Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem"

"A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades"


Testamento de Maria Helena Vieira da Silva

Auto-retrato de Vieira da Silva

Eu lego aos meus amigos

Um azul cerúleo para voar alto.

Um azul cobalto para a felicidade.

Um azul ultramarino para estimular o espírito.

Um vermelhão para o sangue circular alegremente.

Um verde musgo para apaziguar os nervos.

Um amarelo ouro: riqueza.

Um violeta cobalto para o sonho.

Um garança para deixar ouvir o violoncelo.

Um amarelo barife: ficção científica e brilho; resplendor.

Um ocre amarelo para aceitar a terra.

Um verde veronese para a memória da primavera.

Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade.

Um laranja para exercitar a visão de um limoeiro ao longe.

Um amarelo limão para o encanto.

Um branco puro: pureza.

Terra de siena natural: a transmutação do ouro.

Um preto sumptuoso para ver Ticiano.

Um terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra.

Um terra de siena queimada para o sentimento de duração.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Tabacaria

      TABACARIA (Álvaro de Campos)

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    (...)

terça-feira, 27 de março de 2012

O escritor italiano que entrou em Lisboa pela "tabacaria"

Conheceu Portugal por causa de Fernando Pessoa; adoptou como seu um país que conhece como poucos; é um grande escritor europeu que aqui vive e aqui se inspira.

Num certo Verão, em meados dos anos 60, um jovem italiano de férias em Paris compra num bouquiniste um livrinho intitulado Le Bureau de Tabac. Autor: Fernando Pessoa. A leitura desse longo poema (que era, afinal, de Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa), na tradução de Pierre Hourcade, mudaria para sempre a vida do jovem Antonio Tabucchi. E esse simples gesto tornou-se ele próprio digno de lenda, uma vez que, noutras versões, terá comprado o livro na Gare de Lyon, antes de apanhar o comboio de regresso à Toscana natal. Seja como for, o fascínio que sobre o então estudante de filosofia exerceu A Tabacaria levou-o a estudar português para entender melhor a língua desse "desconhecido e curioso" poeta.

"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." Os primeiros versos do poema de Álvaro de Campos ficaram a martelar-lhe na cabeça até que se decidiu: veio pela primeira vez a Lisboa num velho Fiat 500, atravessando estradas quase intransitáveis. Fez amigos e começou a conhecer melhor uma cultura a que se manteria ligado até hoje. De tal forma que, em 1969, quando terminou o curso em Pisa (cidade onde nascera em 1943) o fez defendendo uma tese sobre "o surrealismo em Portugal".

Uma das moradas de Lisboa que trazia era a de Alexandre O'Neill. Contou mais tarde que, quando abriu a porta, o poeta lhe perguntou: "Gostas de sardinhas decapitadas?" Perante o espanto do jovem italiano, o autor de Abandono Vigiado oferece-lhe sardinhas em lata. Ficaram amigos para sempre e, em 1971, Tabucchi seria testemunha do casamento de O'Neill com Teresa Gouveia.

Por essa altura, já tinha sido investigador na Escola Normal Superior de Pisa e preparava-se para ensinar Língua e Literatura portuguesas em Bolonha. Ainda em Pisa, num Verão invulgarmente quente, com a mulher grávida (a portuguesa Maria José de Lancastre, professora e divulgadora da cultura portuguesa em Itália), pôs-se a escrever um romance. Saiu-lhe Piazza de Italia, um dos poucos livros dele ainda não traduzidos em português. Seguiram-se obras hoje clássicas, como Jogo do Reverso, Pequenos Equívocos sem Importância, Nocturno Indiano (Prémio Medicis),O Fio do Horizonte. A sua ligação a Portugal deu-lhe ainda matéria para livros como A Mulher de Porto Pim, Afirma Pereira (o mais premiado) ou A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro. Com os dois últimos não só se afirmou como um dos mais respeitados nomes da literatura europeia contemporânea como interveio no debate de ideias sobre a evolução da sociedade, a começar pelo caso italiano.

Em 2004, candidatou-se ao Parlamento Europeu pela lista do Bloco de Esquerda. Afirmou então, em entrevista ao DN, que o fazia "para dar testemunho" num momento em que nos arriscávamos "a perder os princípios do Estado de direito". Criticava a invasão do Iraque e, em geral, os métodos da Administração Bush para combater o terrorismo. Manteve uma polémica com Umberto Eco sobre o papel dos intelectuais na actual crise. Que devem fazer os intelectuais quando uma casa arde? Chamar os bombeiros, disse Eco. Sim, acrescentou Tabucchi, mas sobretudo procurar saber as causas do incêndio, para que não se repita. Em Itália, combate o sistema Berlusconi, o "grau zero da política"; em Portugal, onde passa vários meses por ano, agora que está reformado do ensino, pensa, age e, felizmente, continua a escrever, acrescentando sempre um ponto ao velho conto-poema de Álvaro de Campos: "À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

(artigo de Albano Matos, publicado no site do Diário de Notícias em 9 de Julho de 2011)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Antonio Tabucchi

"Se o homem não tivesse sido movido pelo desejo, nós ainda estaríamos nas cavernas. É o desejo que move a civilização humana." António Tabucchi

Duas frases de Oscar Wilde

1. "A vida é demasiado importante para ser levada a sério!"
2. "Everything in the world is about sex except sex. Sex is about power."
2. "Tudo no mundo é sobre sexo, exceto o sexo. Sexo é sobre o poder."

Frei Bento Domingues

Excerto da crónica da autoria de Frei Bento Domingues, publicada no jornal Público de ontem, intitulada "O grande sermão desta Quaresma":

(...) os pobres e empobrecidos aumentam mais do que as esmolas e em nome de uma futura saúde financeira, muitos cidadãos estão reduzidos à condição de pedintes.

Foi prometido o emagrecimento do Estado e resultou o emagrecimento da sociedade civil. A contra mão, cresceu a nossa generosidade internacionalista: os jovens portugueses mais preparados e qualificados irão trabalhar para o desenvolvimento do Brasil e de Angola. (...)

terça-feira, 20 de março de 2012

Inês Pedrosa - Os equívocos do poder

Austeridade não é sinónimo de autoridade. A austeridade pode impor-se, mas só será eficaz se for consequência de uma autoridade reconhecida como tal por aqueles que sofrem a imposição.

Recordo muitas vezes a história de um jornalista que, viajando de carro com um membro do Governo na Roménia de Ceausescu, o avisou de que estavam a entrar por uma rua de sentido proibido. A resposta do governante foi esta: «On peut tout: on a le pouvoir» (Podemos tudo: temos o poder). Felizmente o tempo veio demonstrar a falsidade escandalosa desta afirmação.

Há demasiados países cujos governantes estão convictos de que o poder é uma distinção suprema que lhes permite todos os atropelos sobre os outros.

Mesmo nas democracias, há inúmeros redutos (normalmente, os que a um olhar turístico parecem mais bucólicos) onde a vida real funciona assim. Existem vilas onde o maior amigo do homem que espanca a mulher é o chefe da Polícia, e municípios onde só se cumprem as ordens dos senhores que detêm o poder.

Com uma ressalva importante: se em democracia as coisas funcionam assim, é porque a populaça cala, acata, consente – na esperança do favorzinho futuro.

A autoridade autêntica é feita de exemplo e acto – nunca de queixumes e culpabilizações. Não basta ganhar eleições para se conquistar autoridade – aquilo a que as vitórias eleitorais comprometem os vencedores é a merecerem ser respeitados como líderes.

A linguagem tem a importância de um enunciado de exame: pode ser estimulante, aborrecida, clara ou confusa – mas exige resposta, e a resposta, em política, exprime-se através da acção, ética em movimento.

Muito mais do que simplesmente ouvir, a capacidade de escutar é essencial a um líder, seja qual for a área da liderança. Vivemos uma era de lideranças múltiplas e interactivas – o que devia significar melhores ideias e um acentuado desenvolvimento. Na ciência e nas artes, essa multiplicação de competências cruzadas tem sido extraordinariamente criativa e rentável.

Pelo contrário na política assistimos a um declínio de ideias e eficiência radicalmente devastador.

Porquê? Porque ao desmoronar das ilusões comunistas se sucedeu um deslumbramento bacoco com as aparentemente infinitas capacidades de prestidigitação do capitalismo.

Um pouco de conhecimento de História bastaria para acalmar a febre do ouro que atacou fatalmente os yuppies do fim do milénio passado – mas, na infinita arrogância que a candura arrasta consigo, eles prescindiram de perder tempo e ganhar rugas debruçados sobre os alfarrábios de História (já para não falar dos de Filosofia, que gastariam ainda mais tempo e contenderiam com o nervosismo da ânsia de sucesso).

Ao contrário do que se pensava, não foi a sida a peste do fim do século – essa, graças aos cientistas, acabou por se tornar uma doença crónica entre muitas outras. E a devastação física e afectiva que causou acabou por convocar as pessoas para esse fundamento moral da existência que é o amor, nas suas múltiplas modalidades. A sida teve pelo menos essa consequência regeneradora: a de levar as pessoas a serem solidárias e a aprenderem a olhar o outro com compaixão (no seu sentido original de paixão partilhada).

O caos financeiro mundial provocado pela genuflexão da política face à especulação financeira não parece ainda ter qualquer efeito no pensamento e no rumo dos líderes políticos democráticos.

Não perceberam o bê-á-bá do funcionamento das sociedades, nem sequer esta coisa elementar: a economia é um meio ao serviço de um fim, que é a dignidade das populações.

(crónica publicada no jornal Sol de 16 de março de 2012)

domingo, 18 de março de 2012

José Gomes Ferreira

José Carlos de Vasconcelos, no programa Câmara Clara, contou que Ramalho Eanes, quando era Presidente da República, perguntou a José Gomes Ferreira:
- Então Mestre, como é que vai?
José Gomes Ferreira, pôs aquele seu ar teatral, passou a mão pelo seu cabelo e respondeu:
- Injustamente velho!

O jornalismo livre, num texto inédito de Albert Camus

Albert Camus en 1953 / AFP

El 25 de noviembre de 1939, cuando Francia empezaba a gangrenarse por el miedo a la invasión alemana y sus élites políticas y periodísticas se disponían a entregarse sin pudor al III Reich, Albert Camus escribió un artículo para Le Soir républicaine, el periódico de una sola página a dos caras del que era codirector en Argel. En Francia regía la censura, y el texto no llegó a publicarse nunca. Lógico, porque en apenas tres folios el autor de El extranjero bordaba un alegato por la libertad de prensa. Al defender la utilidad del oficio de informar en tiempos de guerra, Camus sostuvo el derecho de cada ciudadano a elevarse sobre el colectivo para construir su propia libertad, y definió los cuatro mandamientos del periodismo libre: lucidez, desobediencia, ironía y obstinación. Son, casualmente, los puntos cardinales que inspiraron su obra novelesca y filosófica.

El espléndido texto ha salido del agujero negro del tiempo gracias a una colaboradora de Le Monde, Macha Séry, que lo encontró en los Archivos Nacionales de Ultramar (Aix-en-Provence). El diario vespertino lo publicó este jueves en sus páginas culturales, y en el Salón del Libro de París todos hablaban del artículo y del último libro de Michel Onfray, El orden libertario, que traza una comparación entre Camus y Jean-Paul Sartre especialmente odiosa para el segundo.

“Es difícil evocar hoy la libertad de prensa sin ser tachado de extravagancia, acusado de ser Mata-Hari o siendo convencido de que eres sobrino de Stalin”. Así empieza el artículo, que enseguida sienta su tesis: la libertad de prensa “es solo una cara más de la libertad tout court”, y la “obstinación en defenderla” obedece a que, sin ella, “no habrá forma de ganar realmente la guerra”.

Camus aborda la injusticia de que los grandes medios nacionales pudieran publicar en aquellos meses artículos que en los diarios de ultramar eran sistemáticamente censurados. Y escribe: “El hecho de que un periódico dependa de la competencia o del humor de un hombre demuestra mejor que cualquier otra cosa el grado de inconsciencia al que hemos llegado”.

Con la sobria sagacidad del clásico, prosigue: “Uno de los buenos preceptos de una filosofía digna de ese nombre es el de jamás caer en lamentaciones inútiles ante un estado de cosas que no puede ser evitado. La cuestión en Francia no es hoy saber cómo preservar la libertad de prensa. Es la de buscar cómo, ante la supresión de esas libertades, un periodista puede mantenerse libre. El problema no concierne a la colectividad. Concierne al individuo”.

Los medios y condiciones para que un periodista independiente no pierda su libertad “ante la guerra y sus servidumbres” son cuatro: lucidez, rechazo, ironía y obstinación. La lucidez, porque “supone la resistencia a los mecanismos del odio de la ira y el culto a la fatalidad”. Según Camus, “un periodista, en 1939, no se desespera y lucha por lo que cree verdadero como si su acción pudiera influir en el curso de los acontecimientos. No publica nada que pueda excitar el odio o provocar desesperanza. Todo eso está en su poder”.

“Frente a la creciente marea de la estupidez, es necesario también oponer alguna desobediencia”, continúa Camus. “Todas las presiones del mundo no harán que un espíritu un poco limpio acepte ser deshonesto”, decía. Y luego: “Es fácil comprobar la autenticidad de una noticia. Y un periodista libre debe poner toda su atención en ello. Porque, si no puede decir todo lo que piensa, puede no decir lo que no piensa o lo que cree que es falso. Esta libertad negativa es, de lejos, la más importante de todas”, ya que permite “servir a la verdad en la medida humana de sus fuerzas”, o “al menos rechazar lo que ninguna fuerza le podría hacer aceptar: servir a la mentira”.

La tercera condición para ser libres es la ironía: “No vemos a Hitler, por poner un ejemplo entre otros posibles, utilizar la ironía socrática”, escribe Camus. “La ironía es un arma sin precedentes contra los demasiado poderosos. Completa a la rebeldía en el sentido de que permite no solo rechazar lo que es falso, sino decir a menudo lo que es cierto”.

Para cumplir lo anterior, la cuarta regla indispensable es “un mínimo de obstinación para superar los obstáculos que más desaniman”, a saber: “La constancia en la tontería, la abulia organizada, la estupidez agresiva”.

¿Y después de la guerra?, acaba preguntándose Camus. “Hará falta probar con un método del todo nuevo que sería la justicia y la generosidad. Pero esto solo se expresa en los corazones ya libres y los espíritus todavía clarividentes. Formar esos corazones y esas almas, o mejor despertarlos, será la tarea a la vez modesta y ambiciosa que tocará al hombre independiente. La historia tendrá o no en cuenta estos esfuerzos. Pero habrá que hacerlos”.

Quizá lo más fascinante del rescate es que, 73 años después, el manifiesto de Camus sigue teniendo toda vigencia, humana y periodística. Francia no está en guerra y no existe la censura, pero ahí está la actitud monárquica de sus gobernantes ante la prensa; la promiscuidad entre las clases política, empresarial y mediática, la uniformidad obediente y temerosa de tantos medios.

En noviembre de 1939, Camus decía que los “artículos más valientes se publican en Le Canard enchaîné. En marzo de 2012 sigue siendo verdad. Como todo lo demás.

(texto de Miguel Mora, publicado no site do jornal El País)

Alexandre, o Grande, já não está no Afeganistão

Protestos pela queima de vários exemplares do Corão por parte de soldados dos E.U.A. - foto de Ahmad Masood (REUTERS)

Estados Unidos tiene serios problemas en Afganistán. No solo ha perdido la guerra en la se embarcó en 2001, poco después del 11-S, sino que ahora, tras la matanza de Kandahar, la derrota es visible a todos. También ha perdido el contacto con la realidad, embutido en su propaganda. Hasta el presidente afgano, Hamid Karzai, que les debe el trono, se ha atrevido a exigir que las tropas norteamericanas dejen de patrullar en las ciudades, se concentren en sus bases urbanas y se limiten a las zonas rurales. Esto supondría adelantar un año del calendario de retirada.

Karzai habla con la boca pequeña porque su Ejécito, creado, adiestrado y financiado por la OTAN, no tiene (aún) capacidad para derrotar a sus enemigo. Karzai -una marioneta de Washington, según los talibanes- habla para su opinión pública, crispada desde la quema de los Coranes, y ante la que quiere parecer al mando.

Los talibanes, que viven su 'momentum', como dirían los estadounidenses, han suspendido todo contacto, conversación o negociación con el ocupante. Es una estrategia: buscan ganar tiempo, quizá mejorar su posición negociadora. La negociación es la única salida para los estadounidenses: encontrar una puerta que les permita 'vender' que han empatado el partido. A los talibanes no les gusta el fútbol ni los símiles. Solo tienen paciencia; su fin volver al poder en Kabul.

Afganistán es un país montañoso de gente esculpida en el dolor y la resistencia; un país hermoso, tribal y complejo. El único extranjero que conquistó Afganistán y doblegó a los clanes pastunes, etnia que de la se nutren los talibanes, fue Alejadro Magno. Sus tropas cometieron lo que hoy llamaríamos un genocidio. Solo por aplastamiento es posible ganar una guerra en este país. Un diplomático occidental me dijo en 2009: "Afganistán es tan inexplicable que Alejandro entró siendo homosexual y partió casado.

(artigo de Ramón Lobo, publicado no site do jornal El País)

terça-feira, 13 de março de 2012

No Afeganistão, as crianças são apenas civis

A notícia é (site da SIC Notícias, por exemplo):

"Soldado norte-americano mata 16 civis afegãos em Kandahar".

Um "pormenor" que não é destacado pela informação em Portugal: dos 16 civis 9 são crianças.

Notícia da tv globo aqui.

Façamos o paralelismo entre este massacre e o acidente de autocarro que ocorreu na Suíça.

Títulos do jornal Público:

"Soldado americano mata 16 pessoas em ataque inexplicável"

"Bélgica em choque com acidente que mata 28 pessoas, das quais 22 crianças"

Títulos do jornal "Diário de Notícias":

“Talibãs juram vingar massacre de civis em Kandahar por militar norte-americano”

“Soldado americano mata 16 civis afegãos”“22 crianças belgas morrem em acidente de autocarro”

Títulos do jornal Expresso:

“Soldado americano mata 15 civis afegãos”

“Afeganistão: Atacada delegação que conduz inquérito sobre massacre de 16 civis”

“22 crianças belgas morrem em acidente de autocarro”

No 2º caso tem relevância o facto de serem crianças, 22 das 28 pessoas que morreram.

No 1º caso não tem relevância o facto de serem crianças, 9 das 16 pessoas mortas.

Porquê?

Será que não é reconhecido, às crianças afegãs, o direito de serem crianças?

Vénus, Júpiter e Marte

(Imagem: Starry Night Software - fonte)
Vénus e Júpiter, que têm vindo a aproximar-se, vão estar hoje mais próximos um do outro. A partir daqui vão afastar-se. A sua observação é muito fácil, olhando para poente, depois do Sol se pôr.
Olhando para Nascente é também simples a observação de Marte, o planeta vermelho.

domingo, 11 de março de 2012

Lawrence Ferlinghetti

Ferlinghetti frente à livraria que fundou, em 1953, em S. Francisco

Poema dito pelo autor, aqui.

"Pity the nation"

Pity the nation whose people are sheep,

and whose shepherds mislead them.

Pity the nation whose leaders are liars, whose sages are silenced,

and whose bigots haunt the airwaves.

Pity the nation that raises not its voice,

except to praise conquerors and acclaim the bully as hero

and aims to rule the world with force and by torture.

Pity the nation that knows no other language but its own

and no other culture but its own.

Pity the nation whose breath is money

and sleeps the sleep of the too well fed.

Pity the nation — oh, pity the people who allow their rights to erode

and their freedoms to be washed away.

My country, tears of thee, sweet land of liberty.

"Pobre da nação"

Pobre da nação cujo povo é de cordeiros

E cujos pastores extraviam

Pobre da nação cujos líderes são mentirosos cujos sábios são silenciados

E cujos preconceituosos assombram as antenas

Pobre da nação que não levanta a sua voz

Exceto para louvar os conquistadores e aclamar o fanfarrão como herói

E pretende dominar o mundo pela força e pela tortura.

Pobre da nação que não conhece outra língua além da sua

Nem outra cultura além da sua.

Pobre da nação que respira dinheiro

E que dorme o sono dos bem alimentados demais.

Pobre da nação – oh, pobre do povo que permite a erosão dos seus direitos

E que as suas liberdades sejam levadas para longe.

Meu país, choro por ti, doce terra da liberdade.

(citado por José Pacheco Pereira no seu programa "Ponto Contraponto")

Júlio Pomar

"Há uma necessidade que nos leva a determinado ato, a determinada parte, a determinados convívios. O que importa é essa necessidade e o reconhecimento dela. Muitas vezes as pessoas não têm coragem para isso. Que isto de viver é difícil, não é brincadeira nenhuma. Não sabemos viver com as nossas contradições. "É um indivíduo cheio de contradições", dizem as famílias. Ainda bem! Se não tem consciência das suas contradições, o bicho homem anda com as quatro patas no chão."
Júlio Pomar, na entrevista conjunta com Mário Soares, dada a Anabela Mota Ribeiro e publicada no suplemento do jornal Público de hoje.

sábado, 10 de março de 2012

E Tudo o Vento Levou

"Mas, juntos em matéria de fé económica ultraliberal, devotos das teses da escola monetarista de Chicago, Thatcher e Reagan arruinaram os seus países e destruíram quase uma geração. Quando eles saíram de cena, a "Time" (insuspeita de simpatias de esquerda) fez uma imortal capa, decalcada da célebre cena do "E Tudo o Vento Levou", em que Clark Gable carrega ao colo Vivian Leigh enquanto a casa arde em fundo. Na capa da "Time", com a Casa Branca ardendo em fundo, Reagan carregava Thatcher ao colo e o título rezava: "Milton Friedman presents: Gone With The Wind".
Não tarda muito, estarei a ver uma capa destas, com Vítor Gaspar carregando Passos Coelho ao colo e o título: "E tudo as nossas ilusões levaram"."
Excerto da crónica de Miguel Sousa Tavares, publicada no jornal Expresso de hoje.

Restaurante Jaffa, em Telavive

Foto de Amit Geron
O restaurante Jaffa, em Telavive, do chef Haim Cohen, foi projetado pelos arquitetos Baranowitz e Kroenenberg.

"Haim Cohen es uno de los chefs más conocidos de Tel Aviv. En un lugar que mezcla ingredientes y cocinas, la suya se ha hecho famosa por trabajar los alimentos con honestidad (en la selección de materiales y en los juegos gastronómicos) y hasta con ingenuidad (en la naturalidad de las propuestas). Cohen buscó a los arquitectos Baranowitz y Kroenenberg para que tradujeran ese credo en restaurante.

El resultado es un local de estética industrial, inacabada y actual, pero con la calidez de la tradición y la distinción del povera que convierte los vulgares desconchados en vestidos extraordinarios. Con suelos y paredes de hormigón, los arquitectos explican que buscaron trabajar con “agua, hormigón y acero de la misma manera que Cohen cocina con agua, harina y aceite de oliva”. La sencillez admite matices: el cemento de los muros está lijado para dejar ver las piedras que se mezclan con el polvo cuando se levanta una pared."

Texto integral de

Moebius

Morreu Moebius (Jean Giraud), o francês que criou Blueberry.
Aqui, Moebius a desenhar o seu herói.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Povoamento da ilha do Pico

Foto minha
"A ilha do Pico, começada a povoar no século XV, por dois lados diferentes, teve os dois grupos de povoadores afastados quase dois anos, sem fazerem ideia que do outro lado da montanha havia gente. Conta um cronista antigo, que quando os dois grupos finalmente se encontraram, "se festejaram muito"."
(Excerto do artigo de Ana Assis Pacheco, publicado no JL de anteontem).
Digo eu: um facto merecedor de celebração: a festa da ilha, a festa da fraternidade, a festa do afinal não estamos sós.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Porque é que Lu Wenyu não ganhou o Pritzker?

Ha vuelto a pasar. En la reseña del último Premio Pritzker para las páginas de cultura de El País la descripción del esforzado y reivindicativo trabajo del estudio Amateur Architecture constataba la acción política del nuevo galardón, explicaba la oportunidad de cambiar de rumbo de la propia arquitectura y preguntaba por qué, una vez más, la socia fundadora de un estudio familiar se ha quedado sin premio.
Texto integral, aqui.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Quando Matisse plagiava Matisse

"Capuchinas de la Danza II" (1912), óleo sobre lienzo

Desde que empezó a pintar en serio hacia 1898 hasta que se le apagó la luz en 1952, Henri Matisse (1869-1954) hizo de la repetición, las digresiones, las parejas de cuadros y las series y variaciones sobre el mismo tema una especie de reto doble: se medía a sí mismo y al mismo tiempo investigaba sobre el misterioso proceso de la creación pictórica. Como un científico en el laboratorio, o quizá como un Warhol sin su factoría y adelantado a su tiempo, el pintor viajó desde el puntillismo primerizo hasta las maravillosas figuras de papeles recortados de los años cincuenta por todas las fases y rupturas de las vanguardias mientras reflexionaba sobre el color, la materia y la forma copiándose y corrigiéndose a sí mismo.

Ese obsesivo ejercicio de estudio y estilo que, en manos de un gigante como él, resulta sencillamente deslumbrante, es el centro de la exposición que abre hoy el Centro Pompidou de París. El museo examina con lupa la extraña afición de Matisse a plagiar y mejorar a Matisse a través de 60 pinturas y una treintena de dibujos, llegados de medio mundo y ordenados por orden cronológico, cada oveja con su pareja o con la serie que le corresponde.

(…)

La potencia de Matisse, su influjo sobre el arte y la mirada de sus contemporáneos, sus descubrimientos y renuncias —muchos de los cuales Picasso fagocitaría con su compulsiva y esponjosa capacidad de apropiación y reinvención— saltan a la vista al entrar en la enorme sala del sexto piso del Pompidou, donde saludan al visitante dos bodegones de naranjas y manzanas de los años 1898-1899. Enseguida, una pareja de naturalezas muertas, hechas con vivísimas telas españolas y pintadas en Sevilla entre 1910 y 1911 (las presta el Hermitage), eleva un listón del que la exposición ya no vuelve a bajar.

(…)

La comisaria (Cécile Debray) cree que la exposición, que tras cerrar en junio en París, visitará Copenhague y el MoMA, resume una “tensión permanente en la obra de Matisse y que le dio su fuerza y su profundidad: la dualidad entre el brote rápido y espontáneo y la elaboración lenta”.

El pintor dijo que pintar es “como un juego de cartas” porque antes de empezar uno tiene que saber lo que quiere hacer al final. Esa obsesión por mantener (o superar) la idea original y la frescura al final del proceso le llevó a usar la fotografía para captar su primera intención y no dejarse llevar (o sí) por el acto físico de la pintura. Una vez, expuso su Naturaleza muerta con magnolia junto a las fotos de sus estados anteriores, y en 1945 colgó en la galería Maeght seis cuadros a medio terminar colocando a su lado algunas fotos en blanco y negro: unas eran los primeros bocetos, otras reflejaban su apariencia posterior. Una sala especial evoca aquel experimento de work in progress e instalación, inventados por Matisse décadas antes de que se acuñaran los términos.

Él lo explicó con la sencillez de los grandes: “Trabajo desde el sentimiento. Tengo una idea del cuadro en la cabeza, y quiero realizarla. Puedo, muy a menudo, repensarla. Pero sé dónde quiero que acabe. Las fotografías que tomo durante la realización de la obra me permiten saber si la última idea se adapta mejor al ideal que las anteriores. Si estoy avanzando o retrocediendo”.

(Artigo de Miguel Mora. Texto integral, aqui)