"(...) em certo ponto do terceiro livro, Pantagruel oferece o governo de Salmigondin a Panurgo, (...) Pouco tempo depois de ser empossado, Panurgo conduz a economia de Salmigondin à bancarrota. Pantagruel, que é uma espécie de Tribunal de Contas, mas mais diligente e atento, pergunta-lhe quando é que ele tenciona pagar as suas dívidas. É então que Panurgo responde celebremente: nunca. Ter dívidas, diz ele, é um dos segredos da vida longa e feliz. Quando se contrai uma dívida, prossegue, os credores rezam por nós para que Deus nos dê muita saúde, intercedem a nosso favor junto da toda a gente para que nada de mal nos aconteça e tentam angariar quem nos empreste mais dinheiro, para tentarem recuperar o deles. (...) O elogio que Jardim tem feito excede , em invenção e desfaçatez, o de Panurgo, uma vez que Rabelais era um génio mas não conseguia efabular tão alto. A cronologia dos factos é interessante e difícil de acompanhar. No domingo, Jardim negou que houvesse dívidas. Na segunda-feira, admitiu que havia dívidas, mas negou que as tivesse ocultado. Na terça, admitiu que tinha ocultado as dívidas em legítima defesa da Madeira. Na quarta, negou ter admitido que tivesse ocultado as dívidas. Hoje é quinta, e não se sabe ainda o que vai dizer - e nenhum de nós tem imaginação suficiente para se deitar a adivinhar."
(Excertos da crónica de Ricardo Araújo Pereira publicada hoje na revista Visão, onde se refere ao terceiro livro da série Gargantua - Pantagruel, da autoria de François Rabelais (1494-1553))
Sem comentários:
Enviar um comentário