Os presos políticos do Estado Novo não foram apenas os que o regime considerava serem "perigosos comunistas". Miguel Torga foi preso no início de Dezembro de 1939 e permaneceu na cadeia do Aljube durante três meses. No dia 1 de Janeiro de 1940 escreveu o poema Ariane:
Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.
Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário