segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Dia Nemésio


No dia 16 de junho a Irlanda - e não só - celebra o Bloomsday. É, talvez, a única celebração anual de um romance. Leopold Bloom é o personagem principal do romance Ulisses, da autoria de James Joyce e a epopeia em que se vê envolvido decorre durante 16 horas do dia 16 de junho de 1904. 

Em Dublin, os organizadores do evento principal promovido pelo governo - o Bloomsday Festival - recordam os acontecimentos do livro, passados em dezanove ruas da capital irlandesa.
O Bloomsday Festival de Dublin tem a duração de uma semana, entre os dias 11 e 16, com uma programação especial no último dia.
Terra verde e brumosa, poderia o grupo central açoriano comemorar o Dia Nemésio (não sou adepto do Dia Margarida).

Vitorino Nemésio


A minha vida está velha
Mas eu sou novo até aos dentes.
Bendito seja o deus do encontro,
O mar que nos criou
Na sêde da verdade,
A moça que o Canal tocou com seus fantasmas
E se deu de repente a mim como uma mãe,
Pois fica-se sabendo
Que da espuma do mar sai gente e amor também.
Bendita a Milha, o espaço ardente,
E a mão cerrada
Contra a vida esmagada.
Abençoemos o impossível
E que o silêncio bem ouvido
Seja por mim no amor de alguém.

Autor: Vitorino Nemésio

sábado, 28 de abril de 2012

Portugal à espera da Europa

(...)
Veio então a fase pior: em 2011, um acordo necessário, mas leonino, com os credores; e uma receita punitiva (sobretudo austeridade), sem olhar ao crescimento e ao emprego. Impuseram-nos a seguinte divisa: " É preciso que tudo fique pior, até que algo possa começar a melhorar. "Ora, todos sabemos que um país endividado, se não quer morrer ou passar fome, tem de aplicar a austeridade ao consumo, mas não ao investimento, pois precisa de crescimento e de emprego. A própria UE o reconheceu, por unanimidade, no comunicado final da cimeira de Amesterdão, de Junho de 1997.
É isso possível? Claro que sim: basta conhecer a experiência dos governos estaduais falidos, nos EUA. A receita é dupla: de um lado, negoceiam com a banca programas de austeridade; do outro, recebem de Washington generosos contratos de apoio ao investimento civil e militar. É remédio santo.
Ou seja, e como há anos venho defendendo: a Europa tem de ser federal, ou acabará mal. Mas o federalismo democrático que sempre defendi não comporta qualquer directório: pressupõe a eleição directa, por todos os cidadãos europeus, de um Parlamento que legisle e de um Executivo que governe. Esses dois órgãos federais poderiam impor-nos sacrifícios? Sim, se necessários; mas seriam sempre sacrifícios decididos por quem nós tivéssemos escolhido para dirigir a União (o que hoje não sucede). E deviam fiscalizar as nossas fantasias despesistas, é óbvio. Mas, com uma Europa federal solidária, não poderia haver apenas sacrifícios nacionais: o governo federal teria de ajudar os países em dificuldade, fazendo investimentos geradores de emprego. Devia efectuá-los com receitas próprias (fundos estruturais) e com eurobonds; mais tarde ou mais cedo, estes vão ser inevitáveis. O meu federalismo - como o de Jean Monnet, ou De Gasperi, Adenauer, Paul-Henri Spaak - seria uma boa "democracia sobre democracias". O que hoje temos é uma nefasta "ditadura sobre democracias". Até quando? Como dizia Cícero, em discurso famoso, "até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
(Diogo Freitas do Amaral, Público de 25 de Abril de 2012)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Guernica

Fez ontem 75 anos que Guernica foi bombardeada.
No dia 28 de Abril de 1937, os jornais "The Times" e "The New York Times" publicaram o emocionante relato de George Steer, o mais reproduzido e comentado em quase todo o mundo mas sem qualquer eco em Portugal.
Steer escreve: "Às duas horas da manhã de hoje, quando visitei a cidade, o seu conjunto apresentava uma visão aterradora, ardendo de ponta a ponta. O reflexo das chamas podia ser visto nas nuvens de fumaça acima das montanhas a dez quilómetros de distância. Durante toda a noite caíam casas e as ruas tornavam-se longas pilhas de destroços vermelhos impenetráveis. Muitos dos sobreviventes civis iniciaram a longa caminhada de Guernica a Bilbau em antigas e sólidas carroças bascas puxadas por bois. As carroças, repletas de todo o tipo de utensílios domésticos, obstruiram as estradas durante toda a noite. Outros sobreviventes foram evacuados em camiões do Governo, mas muitos foram forçados a permanecer nas redondezas da cidade incendiada deitados em colchões ou procurando parentes e crianças perdidas, enquanto unidades dos bombeiros e da polícia basca motorizada, sob orientação pessoal do ministro do Interior, senhor Monzon e sua esposa, continuavam o trabalho de resgate até o amanhecer" (...) "Pela sua execução e grau de destruição perpetrado, assim como pela eleição do objetivo, o bombardeamento de Guernica não tem exemplo na história militar".
(Texto retirado daqui)

My rainbow race

Foto de Kyrre Lien
Cerca de 40.000 pessoas com rosas e guarda-chuvas nas mãos cantaram nesta quinta-feira em Oslo uma canção infantil em um ato de desagravo contra o extremista de direita Anders Behring Breivik, autor confesso da matança de 77 pessoas no ano passado na Noruega.
Apesar da chuva, os manifestantes cantaram a canção "Filhos do arco-íris", de Lillebjoern Nilsen, a alguns metros da sede do tribunal de Oslo, onde Breivik está sendo julgado.
Para Breivik, este músico é "um bom exemplo de marxista" e sua canção serve para "lavar o cérebro dos alunos nas escolas".
Os manifestantes, que incluíam idosos em cadeira de rodas e estudantes, cantaram esta música que é uma adaptação de "My rainbow race", do americano Pete Seeger. "Juntos viveremos, cada irmão e cada irmã, filhos do arco-íris e de uma terra fértil", afirma o refrão.

Canção My rainbow race
(Notícia retirada daqui)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Vida no Campo

Hoje, na freguesia de Foros de Vale Figueira, Montemor-o-Novo, Álvaro Domingues apresentou o seu livro "Vida no Campo". Na capa do livro uma foto junto do paredão da barragem de Vilarinho das Furnas. Álvaro Domingues, geógrafo e professor na Faculdade de Arquitetura do Porto é também autor do livro "A Rua da Estrada".
Texto do autor sobre o livro aqui.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

O falhanço das medidas do FMI


Comentário de João Palma-Ferreira, jornalista Expresso, no Jornal de Economia da SIC Notícias.

Receita do FMI com maus resultados em Portugal:
http://expresso.sapo.pt/receita-do-fmi-com-maus-resultados-em-portugal=f720999

Ideias pouco pensadas

Nicolau Santos no Expresso de 21 de abril de 2012:
"Uma low-cost foi autorizada a operar a partir do terminal 2 da Portela. Não existe nenhum país europeu onde as low-cost operem nos primeiros aeroportos. Não se percebe, pois, esta decisão que afeta diretamente a TAP. Criar o ovo da serpente em casa não é inteligente."

sábado, 21 de abril de 2012

Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera


"Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera", filme de 2003, da autoria de Ki-duk Kim:
- Poesia sem palavras. Imagens, imagens poéticas, tão saborosas!

Roberto Juarroz


Hemos llegado a una ciudad sagrada. Preferimos ignorar su nombre: Así le podemos dar todos los nombres. No encontramos a quién preguntar Por qué estamos solos en la ciudad sagrada. No conocemos qué cultos se practican en ella.
Sólo vemos que aquí forman un solo filamento
El hilo que une toda la música del mundo Y el hilo que une todo el silencio.

No sabemos si la ciudad nos recibe o nos despide, Si es un alto o un final del camino. Nadie nos ha dicho por qué no es un bosque o un desierto, No figura en ninguna guía, en ningún mapa. Las geografías han callado su ubicación o no la han visto.

Pero en el centro de la ciudad sagrada hay una plaza Donde se abre todo el amor callado Que hay adentro del mundo. Y sólo eso comprendemos ahora: Lo sagrado Es todo el amor callado.

(poema transcrito por Eduardo Prado Coelho em "tudo o que não escrevi")

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Jardim de Infância em Orense

Foto: Santos Díez
Jardim de infância no campus universitário de Orense, projeto dos arquitetos Elisabeth Ábalo e Gonzalo Alonso.

A condição humana

"A condição humana" de René Magritte

Estamos condenados a, apenas, ter acesso a representações da realidade.

Walter Benjamin

"A primeira experiência que a criança tem do mundo não é a de que os adultos são mais fortes, mas de que eles nunca poderão ser mágicos" Walter Benjamin citado por Eduardo Prado Coelho em "tudo o que não escrevi".

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"tudo o que não escrevi" de Eduardo Prado Coelho

Ilha de Guesclin (Bretanha)

"Na surpresa de uma curva, o deslumbramento. Tão forte que as lágrimas deveriam romper clandestinamente no mais fundo dos olhos. Este lugar é uma enseada, enseada amena, a enseada de Guesclin. Em frente uma pequena ilha, com árvores, uma casa à proa, muralhas, janelas pequenas, e, no topo, uma grande janela branca e fechada — uma moldura de silêncio. Enquanto houver ilhas, os homens continuarão a ser reis como os reis que o foram outrora. Reis inúteis, mas soberanos, imensos, sumptuosos, cobertos pelo manto nocturno das águas. Dinastias arrogantemente supérfluas. Diademas, ceptros, flores venenosas. Se eu tivesse uma ilha, os meus amigos chegavam em barcaças, cantavam baladas de marinheiros, bebiam cidra, deitavam-se com a boca salgada, faziam amor e adormeciam.

Na falta de uma ilha, um livro."

Eduardo Prado Coelho, escreveu em Saint-Malo, em 8 de Maio de 1992 (in "tudo o que não escrevi")

domingo, 15 de abril de 2012

"As Palavras" de Eugénio de Andrade

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?

"Sería una tragedia que la cultura acabe en puro entretenimiento"

Foto de Daniel Mordzinski

Entrevista a Mario Vargas Llosa conduzida por Jan Martínez Ahrens (site do jornal El País):

P. Mantiene usted que la cultura se ha banalizado, que triunfa la frivolidad en su peor sentido, que el erotismo pierde en favor de la pornografía, que la posmodernidad es, en parte, un experimento fallido y pedante, que el periodismo amarillea, que la política se degrada, que en la civilización del espectáculo el cómico es el rey… ¿Hay escapatoria?

R. Sí, hay escapatoria. La historia no está escrita, no es fatídica, cambia. Justamente nos ha tocado vivir una época en que hemos visto las transformaciones históricas más extraordinarias e inesperadas. Si alguien me hubiera dicho cuando yo era joven que iba a ver la desaparición de la Unión Soviética, la transformación de China en un país capitalista; si alguien me hubiera dicho que América Latina iba a estar en pleno proceso de crecimiento, mientras Europa vivía su peor crisis financiera en un siglo, no me lo hubiera creído y, sin embargo, todas esas cosas han pasado. Desde luego que se puede esperar una renovación de la vida cultural, de las artes, de las humanidades, y que abandone ese sesgo cada vez más frívolo, superficial, que yo creo que es una de sus características principales hoy en día; no la única, porque hay excepciones a la regla, afortunadamente. Pero esa banalización tiene consecuencias no solamente en el campo de la cultura, sino en todos los otros. Por eso en el libro me refiero a la política, incluso a la vida sexual, a la relación humana. Todo eso se puede ver muy afectado si la cultura vive en la banalización, la frivolización permanente.

P. Y eso le produce un cierto enfado, sensación de tomadura de pelo. ¿Desde cuándo?

R. Es un proceso, no llega de una vez, pero sí recuerdo, por ejemplo, el shock que supuso para mí hace algunos años visitar la Bienal de Venecia, que era una vitrina del prestigio y la modernidad, de la novedad, del experimento, y de pronto, después de un recorrido de un par de horas, llegar a la conclusión de que allí había mucho más fraude, embuste, que seriedad, que profundidad. Fue para mí una experiencia bastante importante, que me llevó a reflexionar sobre este tema. Al final del libro, en un texto que es bastante personal, cuento cómo enriqueció mi vida leer buenos libros, conocer la gran tradición pictórica, el mundo de la música, cómo eso dio un sentido, un orden, una organización al mundo que lo hizo para mí muchísimo más interesante, más rico, más estimulante. Yo creo que sería una tragedia que justamente en una época en que hay un progreso tecnológico, científico, material extraordinario, al mismo tiempo, la cultura vaya a convertirse en un puro entretenimiento, en algo superficial, dejando un vacío que nada puede llenar, porque nada puede reemplazar a la cultura en dar un sentido más profundo, trascendente, espiritual a la vida.

P. Hay un momento, cuando habla usted de la añoranza, en el que dice: “Lo peor es que probablemente este fenómeno [la banalización de la cultura] no tenga arreglo y lo que yo añoro sea polvo y cenizas sin reconstitución posible”.

R. Espero equivocarme.

P. Ese pesimismo resulta llamativo en alguien de su éxito.

R. …nostalgia de viejo. A ratos siento, sí, cierta angustia porque… Mire, yo viví en Inglaterra y me acuerdo el deslumbramiento que me produjo ver la televisión; la que había conocido antes era muy pobre, muy mediocre, y de pronto descubrí que sí había posibilidades de utilizar la televisión en un sentido creativo y no solo porque los mejores escritores y dramaturgos escribían para la televisión… Había un programa que veía con pasión, se llamaba Panorama, periodismo de investigación. Me acuerdo, por ejemplo, de una entrega de dos horas sobre los disidentes en la Unión Soviética filmado en Moscú clandestinamente. Y de pronto, al cabo de los años, vi que la televisión de Inglaterra había caído también en la frivolidad total. Los mejores países, los que uno supondría que están más defendidos contra eso, han ido también sucumbiendo a esa especie de mandato generacional hacia el facilismo, la superficialidad, la frivolidad. Hay excepciones, desde luego...

P. …su propia obra es una excepción. ¿No es un ejemplo de que la capacidad de autocrítica sobrevive? ¿Qué no todo es autocomplacencia y frivolidad?

R. Sí, pero es siempre preocupante que el mayor vigor, la mayor riqueza, esté ahora en el pasado más que en el presente; que no sea algo de actualidad, sino que hay que volver la vista atrás… Y hay otro aspecto. Junto a la frivolización, hay un oscurantismo embustero que identifica la profundidad con la oscuridad y que ha llevado, por ejemplo, a la crítica a unos extremos de especialización que la pone totalmente al margen del ciudadano común y corriente, del hombre medianamente culto al que antes la crítica servía para orientarse en la oferta tan enorme.

P. Pero lo que plantea es volver a los patrones culturales. ¿Es eso posible? ¿Existe legitimidad para hacerlo? ¿No hay un cierto aristocratismo en todo ello?

R. Aristocratismo es una palabra que provoca mucho rechazo, pero por otra parte el rechazo de la élite en bloque es una gran ingenuidad. No todos pueden ser cultos de la misma manera, no todos quieren ser cultos de la misma manera y no todos tendrían que ser cultos de la misma manera, ni muchísimo menos. Hay niveles de especialización que son perfectamente explicables, a condición de que la especialización no termine por dar la espalda al resto de la sociedad, porque entonces la cultura deja ya de impregnar al conjunto de la sociedad, desaparecen esos consensos, esos denominadores comunes que te permiten discriminar entre lo que es auténtico y lo que es postizo, entre lo que es bueno y lo que es malo, entre lo que es bello y lo que es feo. Parece mentira que se haya llegado a un mundo donde ya no se pueden hacer este tipo de discriminaciones. Porque eso sí, si desaparecen esas categorías es el reino del embuste, de la picardía… La publicidad reemplaza al talento, lo fabrica, lo inventa.

P. Usted extiende su crítica a la cocina o la moda que están pasando a formar parte de la alta cultura.

R. Justamente esa es una de las manifestaciones de esa banalización y de esa frivolidad. No tengo nada contra la moda, me parece magnífico que haya una preocupación por la moda, pero desde luego no creo que la moda pueda reemplazar a la filosofía, a la literatura, a la música culta como un referente cultural. Y eso es lo que está pasando. Hoy en día hablar de cocina y hablar de la moda, es mucho más importante que hablar de filosofía o hablar de música. Eso es una deformación peligrosa y una manifestación de frivolidad terrible. ¿Qué cosa es la frivolidad? La frivolidad es tener una tabla de valores completamente confundida, es el sacrificio de la visión del largo plazo por el corto plazo, por lo inmediato. Justamente eso es el espectáculo.

P. Pero no encierra esa perspectiva una excesiva idealización del pasado, como esa edad dorada platónica que tanto criticaba Popper, y que tiene como consecuencia fosilizar la sociedad, cerrarla al cambio...

R. No, yo no estoy por la fosilización. No soy un conservador en ese sentido, desde luego que no, y sé que en el pasado, al mismo tiempo que Cervantes y que Shakespeare, existía la esclavitud, el racismo más espantoso, el dogmatismo religioso, la Inquisición, las hogueras para el disidente… Yo sé muy bien que el pasado venía con todo eso, pero al mismo tiempo no se puede negar que en ese pasado había cosas muy admirables, que han marcado profundamente el presente, que enriquecieron la vida de las gentes, la sensibilidad, la imaginación. Y esa era una función que tenía la alta cultura, y hoy día no se puede ni siquiera hablar de alta cultura porque eso es incorrecto, políticamente incorrecto.

P. Hay una defensa muy interesante del erotismo en el libro, como obra de arte frente al “sexo descarnado”.

R. El erotismo fue en el mundo de la experiencia la conversión de un instinto en algo creativo, en una verdadera obra de arte y eso fue posible gracias a la cultura. Yo no creo que el erotismo nazca simplemente de una experiencia pragmática del sexo, ni muchísimo menos. Creo que es la cultura, que son las artes, el refinamiento de la sensibilidad que produce la alta cultura, la que crea el erotismo. El erotismo es una manifestación de civilizaciones, se da en sociedades que han alcanzado un cierto nivel de civilización. Y al mismo tiempo significa el respeto de las formas, la importancia de las formas en la relación sexual. Y ahí yo cito mucho a Georges Bataille, él defendió siempre el erotismo justamente como una manifestación de civilización, y fue muy reticente a la permisividad total porque creía que la permisividad total iba a matar las formas y al final se iba a llegar, otra vez, a una especie de sexo primitivo, salvaje. Y algo de eso ha pasado en nuestro tiempo.

P. Es decir, le falta erotismo a nuestra cultura.

R. Por eso el sexo significa tan poco para las nuevas generaciones. Significa un entretenimiento que es casi una gimnasia. Es como segar una fuente riquísima no solo de placer sino de enriquecimiento de la sensibilidad.

P. ¿Qué pensaría el Vargas Llosa de 25 años del libro que ha escrito el Vargas Llosa de ahora?

R. No me lo puedo imaginar. A nosotros nos ha tocado vivir una diferencia generacional sin precedentes en la historia. Precisamente por la extraordinaria revolución tecnológica, audiovisual, el mundo es tan absolutamente diferente que es muy, muy difícil ponerse hoy en día en la piel de un joven. Hay muchas cosas en el pasado que hay que suprimir, que hay que reformar sin ninguna duda. Pero hay una que yo creo que no, que hay que conservarla renovándola, actualizándola, que es la cultura. Una civilización que ha producido Goya, Rembrandt, Mahler, Goethe no es despreciable, no puede ser despreciable. Eso fijó unos ciertos patrones que deben ser, si se quiere, criticados pero mantenidos, continuados. Y esa continuación es la que yo creo que se pierde si la cultura pasa a ser una actividad secundaria y relegada al puro campo del entretenimiento.

P. Habla del pesimismo, del catastrofismo, incluso como un peligro mayor que la corrupción y cita una juventud apática, recluida en la hostilidad sistemática, aburrida. Fenómenos como el del 15-M, el de Occupy Wall Street, ¿no le generan cierta esperanza?

R. Sí, cierta esperanza sí. Siempre y cuando no se orienten en el sentido equivocado. Porque hay un cierto conformismo en la inconformidad. En eso Foucault escribió cosas muy interesantes. Pero sí, creo que hay estallidos entre los jóvenes que son bastante interesantes. No soy pesimista, sino más bien optimista, las cosas pueden cambiar para mejor. Pero hay algunos aspectos en los que es muy importante una crítica muy radical de un fenómeno representa una decadencia.

P. Una decadencia en la que incluye la corrupción política. Para ilustrarla cita usted una anécdota vivida por el escritor Jorge Eduardo Benavides, en Lima, cuando un taxista le dijo que votaba a Fujimori porque “solo robó lo justo”.

R. A mí me pareció maravillosa la historia. Hay una mentalidad ahí detrás ¿no? Un político puede robar; es más, no puede no robar, pero lo importante es que robe no más de lo debido.

P. Y ese tipo de conductas se están extendiendo…

R. …es por el desplome de los valores, no solamente estéticos, sino otros que antes, por lo menos de la boca para fuera, todos respetábamos. El político ya no debe ser honrado, debe ser eficaz. El ser honrado parece una imposibilidad connatural al oficio. Bueno, si se llega a un pesimismo de esa naturaleza entonces estamos perdidos. Y creo que no es verdad y yo lo digo, eso no es verdad. Pero hay una mentalidad que identifica la política con la picardía, con la deshonestidad. Es peligrosísimo sobre todo para el futuro de la cultura democrática. Si vamos a pensar eso entonces la cultura democrática no tiene sentido y a la corta o la larga va a desplomarse también.

P. Pero hay países donde hay mayor protección frente a la corrupción.

R. Por supuesto. La gran diferencia está en el mundo de la democracia y en el mundo del autoritarismo. En democracia hay corrupción, desde luego, lo estamos viendo todos los días. Pero precisamente lo vemos, sale a flote, existe una justicia más o menos independiente que puede todavía sancionar a los culpables. España es un ejemplo. Se puede decir que hay mucha corrupción pero estamos viendo casos de políticos importantísimos que son sentados en el banquillo de los acusados y que son condenados por pícaros, por ladrones, por traficantes. Bueno, esa es la gran diferencia. Eso no se ve en Cuba o China, donde de repente te enteras de que le cortan la cabeza a un señor porque dicen que delinquió y tenía cargos políticos. Hay diferencias. Y dentro de las democracias también. Las más avanzadas son menos corruptas que las más primitivas, las que son mucho más ineficientes. Recuerdo que en los años en que viví en Inglaterra, el escándalo más grande de corrupción fue el de un ministro de Margaret Thatcher, que no solamente perdió su ministerio sino que fue preso y perdió prácticamente todo su patrimonio por haber pasado un fin de semana en el Hotel Ritz de París, pagado por un jeque árabe. O sea, una corrupción de unos cuantos cientos o unos cuantos miles de libras esterlinas. Como comprenderá, eso en la época de Fujimori en el Perú era lo que robaba normalmente un pequeño alcalde. Ya no le digo los millones de millones de millones que consiguieron Fujimori y Montesinos. La sanción social fue muy escasa, puesto que en las últimas elecciones estuvo a punto de subir otra vez al poder con el voto popular. Esas diferencias sí son muy importantes. Y creo que es fundamental ser muy exigente y riguroso en ese campo, y no pensar que por ser político se tiene derecho a robar hasta cierto límite.

P. En las dictaduras hay evidentemente más corrupción. Pero también se da un fenómeno inverso. Ahí es donde la lucha de los intelectuales cobra mayor sentido. Es el caso de China con un premio Nobel de la Paz encarcelado.

R. Absolutamente. Cuando la libertad desaparece es cuando la libertad de pronto resulta importante. Y cuando la lucha por la libertad se convierte en una prioridad, el intelectual, el escritor, el poeta, el novelista, el pintor, de pronto empiezan a tener una importancia central en esa lucha. Ese es un fenómeno que lo estamos viendo en China, es interesantísimo, el caso de Ai Weiwei. Es una figura que representa hoy en día el espíritu de resistencia, la voluntad de apertura, de modernización, de democratización.

P. Al tratar de la degradación de los valores, incluye también el sensacionalismo en la prensa. ¿Cree usted en la autorregulación como una vía para atajar estas prácticas?

R. Creo que es la única. Que la propia prensa asuma una responsabilidad. Eso no se resuelve con sistemas de censura, ni muchísimo menos. Pero además yo creo que el sensacionalismo es la expresión de una cultura. La prensa forma parte de la vida cultural de un país. Y si la cultura empuja a la prensa a la chismografía, y hace de la chismografía un elemento central, al final el mercado se lo va a imponer a los periódicos, por más responsables y serios que quieran ser. Y eso lo estamos viendo en todas partes. Los periódicos más serios tratan de resistir, pero en un momento dado, si la supervivencia está en juego, tienen que hacer concesiones. El origen no está en los periódicos, el origen está en la cultura reinante, que impone la frivolidad y el amarillismo.

P. Usted ha sufrido el sensacionalismo.

R. Lo he padecido. Toda persona que es conocida hoy en día es irremediablemente víctima de la chismografía. Pasas a ser un objeto que ya no puede controlar su propia imagen. La imagen se puede distorsionar hasta unos extremos indescriptibles. Mucho más si haces política en un mundo subdesarrollado. Allí ya todo puede ocurrir.

P. Y hay un efecto multiplicador con las nuevas tecnologías.

R. Frente a las cuales te puedes defender muy mal. A mí me pasó una experiencia hace un tiempo en Argentina. Una señora me felicitó por un texto que me dijo le había conmovido mucho de homenaje a la mujer. Y yo le dije que muchas gracias, pero que no había escrito ningún homenaje a la mujer. Pensé que era una cosa que se había inventado ella o que se había confundido. Un tiempo después me mandan mi elogio a la mujer, que había aparecido en Internet. Un texto de una cursilería que da vergüenza ajena, firmado por mí y lanzado al espacio con motivo de no sé qué. ¿Cómo te defiendes contra eso? Es absolutamente terrible. De pronto pierdes tu identidad, porque hoy en día hay esos mecanismos que permiten falsificaciones de esa índole. A mí me parece bastante aterrador. Tampoco puedes dedicar tu vida a rectificar. Al final dejas de escribir, dejas de leer, para tratar de rectificar todas las falsedades, invenciones que te atribuyen. Eso es uno de los aspectos justamente de la irresponsabilidad que ha traído la gran revolución audiovisual.

P. Pero también hay que reconocer que el universo de Internet y las redes sociales permiten la exposición universal de un artista o de un pensador al instante.

R. Y burlar todos los sistemas de censura; eso es un progreso. Pero al mismo tiempo también es otra forma de confusión que tiene efectos muy negativos en la cultura, en la información. El exceso de información en última instancia también significa la desaparición de la discriminación, de las jerarquías, de las prioridades. Todo alcanza un mismo nivel de importancia por el simple hecho de estar en la pantalla.

P. Aunque no ataca a las religiones, sino al contrario, se percibe en el libro un canto al ateísmo ilustrado. Hay un momento incluso que identifica cultura profunda con aquella fuerza capaz de reemplazar el vacío dejado por la religión.

R. La idea liberal, tradicional, de que con el avance del conocimiento, la religión se iba a ir desvaneciendo fue una ingenuidad. El grueso de la gente, países cultos o países incultos, necesita una trascendencia, algo que le asegure que no perecerá definitivamente, y que habrá otra vida de la índole que sea, y eso es lo que sostiene la religión. Solo una minoría de personas, y eso ha sido igual en el pasado y en el presente, llega a llenar ese vacío con la cultura, que les da suficiente seguridad, suficiente resistencia para aceptar la idea de la extinción. Pero es una ingenuidad combatir a la religión. Tiene una función que cumplir, y es dar ese mínimo de seguridad que permite vivir a la gente con la esperanza de otra vida, de una defensa contra la extinción que aterra a todas las generaciones, no importa que nivel de cultura tenga esa sociedad. Eso lo debemos aceptar los creyentes o no creyentes, siempre y cuando la religión no pase a identificarse con el Estado, porque entonces desaparece la libertad. La religión por definición es dogmática, establece verdades absolutas, y no quiere coexistir con verdades contradictorias. Pero mientras la religión ocupe el espacio que le es propio, creo que es indispensable para que una sociedad sea verdaderamente democrática, libre, en la que se pueda coexistir en la diversidad.

***

La diversidad, la libertad, la tolerancia. El escritor vive y revive en esas palabras. A lo largo de la entrevista, la amargura que, a veces, asoma en su discurso ante lo que considera la devastación de la cultura, siempre se atempera con ellas. De algún modo, son su anclaje ateo y su religión frente al espectáculo.

—“Hemos escrito otro libro, ¿eh?”, bromea antes de despedirse

sábado, 14 de abril de 2012

Roosevelt, o “New Deal” e o resto

Excertos do editorial do Courrier Internacional de Abril de 2012, assinado por Rui Cardoso:

"Em 1931, quando Franklin D. Roosevelt chegou à Casa Branca, não era só a economia norte-americana que estava de rastos." (...) "A verdade é que o novo Presidente fez uma coisa basilar: devolveu a esperança às grandes masssas de desempregados e criou confiança. Falou – e muito – na rádio e a sua voz chegou ao coração de milhões de concidadãos. Mas não se limitou a falar: lançou as bases do Estado social com o “New Deal”. Criou emprego com grandes programas de obras públicas, umas mais necessárias que outras e algumas quase inventadas. Sobretudo, percebeu que não haveria retoma económica se os mais pobres não tivessem um mínimo de poder de compra. Algo que Lula retomaria no Brasil, com o sucesso que se conhece, no combate às formas extremas de pobreza e no impulso ao crescimento económico.

Numa altura em que, a pretexto do combate à crise, se multiplicam libelos contra o Estado social e se propagandeia um retrocesso sem precedentes em matéria de protecção social, é bom recordar estes factos históricos. Apresentado pelos seus detratores internos e externos como perigoso comunista, insultado de coxo e judeu, Roosevelt respondeu com ironia: “Será que ainda não perceberam que o que estou a tentar fazer é salvar o capitalismo?" (...)

Eduardo Galeano, "Los hijos de los días"

Foto: Eugenio Mazzinghi

El uruguayo Eduardo Galeano (Montevideo, 1940) ha escribo un libro con forma de calendario. Cada jornada de un año es una historia situada en distintos lugares del mapa y el tiempo. En total 366 relatos -recordemos que 2012 es uaño bisiesto- encerrados en un volumen titulado "Los hijos de los días". “Lo escribí a partir de un testimonio que recogí, de bocas mayas, en Guatemala, hace ya unos cuantos años, y que ahora da título al libro: creen los mayas que somos hijos de los días, hijos del tiempo, y se me ocurrió que de cada día nacería una historia, porque nosotros, los humanitos, estamos hechos de átomos pero también de historias", cuenta Galeano. El libro del autor de "Las venas abiertas de América Latina" sale a la venta el próximo 16 de abril y Babelia ofrece en exclusiva una selección de textos en exclusiva hecha por el propio autor.


Este libro tiene mucho que ver con el anterior, "Espejos una historia casi universal" (2008) pero cuentan con una estructura diferente. Su intención: "mirar el universo por el ojo de la cerradura, contar la historia grande desde las historias chiquitas" desde el origen, con Adán y Eva, a las islas Malvinas, por ejemplo. ¿Sabía usted que hasta 1990 la homosexualidad fue una enfermedad mental, según la Organización Mundial de la Salud? ¿que la timidez sigue siéndolo según la American Psychiatric Association? ¿o que la primera escritora en la historia de la literatura universal se llamaba Enheduanna, y con ese nombre firmaba sus versos, escritos en tablillas de barro, hace cuatro mil trescientos años? A partir de preguntas como estas tres contesta Galeano que no se cansa de criticar el racismo y el militarismo.

(artigo da autoria de Elisa Silió publicado no dia 12 no site do jornal El País)

¿Cuántos escritores pueden llenar el Solís? ¿Y no una, sino dos veces? Eduardo Galeano realizó anoche, con sala completa, la primera de dos sesiones de lectura de Los hijos de los días, su más reciente libro.

En medio de una pequeña porción de su feligresía -que es realmente mundial- el autor de Las venas abiertas de América Latina leyó durante una hora y media tramos de su nueva obra, en la que sigue exhibiendo una predilección por pulidísimos textos breves, que alcanzó su pico en la trilogía Memoria del fuego (1982-1986). Aquí, los fragmentos están ordenados por fechas, pero no cronológicamente: son la excusa para acudir a un hecho histórico del pasado remoto o reciente.

Con similar disposición lúdica hacia el almanaque, Galeano repasó decenas de esos 366 textos. Entre aplausos y risas -su voz acentúa la comicidad de aquello que en la lectura directa puede parecer simplemente irónico-, el escritor, de 72 años, saltó de fecha en fecha, atendiendo tanto a la continuidad temática como al ánimo de la tribuna, y abandonó en varias ocasiones el “fechado” de sus textos.

El hilo conductor de su discurso es el antiimperialismo, en sentido amplio: no se trata sólo de cuestionar el dominio militar y económico de Estados Unidos, sino de ponerlo en perspectiva comparándolo con las prácticas del imperio británico, el napoleónico, el luso, el español, el romano. La sospecha de la tecnología (automóviles incluidos) acompañada de la veneración a las tradiciones precolombinas, el latinoamericanismo, la confianza en el intelecto y la creatividad como herramientas del verdadero progreso, la idea de que “el mundo está al revés” y la seguridad de que se puede enderezar siguen marcando grandes líneas en Los hijos de los días.

Tal vez parezca inadecuado hablar de “fieles” para aludir al auditorio de un escritor que, como hace cinco décadas, cuestiona permanentemente a la religión occidental. Sin embargo, no es la espiritualidad en sí la que Galeano pone en el banquillo de los acusados, sino la relación entre la iglesia y el poder. Por eso, no tiene problema en acudir a mitos, cristianos o no, para ilustrar mejor un ejemplo. En Los hijos de los días Galeano vuelve a dar pequeñas clases de religión comparada, que si bien ponen al descubierto el carácter demasiado humano de nuestras creencias, rescatan el valor de la esperanza.

Así, es posible leer el último texto del libro como algo distinto a una despedida. Correspondiente al 31 de diciembre, es una de las pocas entradas en las que la fecha no guarda relación con el relato. Allí, Galeano glosa el consejo que daba el romano Serenus Sammonicus para conseguir la inmortalidad: colgarse en el pecho la palabra Abracadabra, que en hebreo antiguo significa “envía tu fuego hasta el final”.

(artigo de JG Lagos pubicado no site do jornal uruguaio La Diaria)

Três dos textos do livro selecionados pelo autor:

Setiembre

28

Día del derecho a la información

Quizá sea oportuno recordar que un mes y pico después de las bombas atómicas que aniquilaron Hiroshima y Nagasaki, el diario The New York Times desmintió los rumores que estaban asustando al mundo.

El 12 de setiembre de 1945, este diario publicó, en primera página, un artículo firmado por su redactor de temas científicos, William L. Laurence. El artículo salía al encuentro de las versiones alarmistas y aseguraba que no había ninguna radiactividad en esas ciudades arrasadas, y que la tal radiactividad no era más que una mentira de la propaganda japonesa.

Gracias a esta revelación, Laurence ganó el premio Pulitzer.

Tiempo después, se supo que él cobraba dos salarios mensuales: The New York Times le pagaba uno, y el otro corría por cuenta del presupuesto militar de los Estados Unidos.

Octubre

12

Día del Descubrimiento

En 1492, los nativos descubrieron que eran indios,

descubrieron que vivían en América,

descubrieron que estaban desnudos,

descubrieron que existía el pecado,

descubrieron que debían obediencia a un rey y a una reina de otro mundo y a un dios de otro cielo,

y que ese dios había inventado la culpa y el vestido

y había mandado que fuera quemado vivo quien adorara al sol y a la luna y a la tierra y a la lluvia que la moja.


Noviembre

22

Día de la música

Según cuentan los memoriosos, en otros tiempos el sol fue el dueño de la música, hasta que el viento se la robó.

Desde entonces, para consolar al sol, los pájaros le ofrecen conciertos al principio y al fin de cada día.

Pero la música ha sido vencida. Los alados cantores no pueden competir con los rugidos y los chillidos de los motores que gobiernan las grandes ciudades. Ya no se escucha el canto de los petirrojos. En vano los escasos ruiseñores se rompen el pecho queriendo hacerse oir, y el esfuerzo por sonar cada vez más alto arruina los trinos de los mirlos y las voces de los benteveos.

Y ya las hembras no reconocen a sus machos. Ellos las llaman, virtuosos tenores, irresistibles barítonos, pero en el estrépito ellas no distinguen quién es quién, y terminan aceptando el abrigo de alas extrañas.