Diógenes — Jean-Léon Gérôme (1860)
Le Magazine Littéraire, no seu número de março de 2014, dá especial destaque à influência dos cínicos gregos na literatura. A palavra cínico tem origem no grego kynikós que significa "relativo ao cão" (Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). Há duas explicações para esta designação, aceite pelo próprio Diógenes de Sínope. Uma que considera que aquela designação se deve ao facto de vários cínicos ensinarem numa escola chamada Cinosargo (em grego, kyon argos, isto é, cão ágil ou cão branco). Curioso que o cão de Ulisses se chamava Cinosargo. Outra explicação é que os cínicos tinham uma vida de cão. Segundo Michel Foucault (Le courage de la vérité. Le gouvernement de soi et des autres II. Cours au Collège de France, 1983/4, citação encontrada aqui), comentadores do século I explicaram esse nome assim:
"Primeiro, a vida kunikos é uma vida de cão por ser sem pudor, sem vergonha, sem respeito humano. É uma vida que faz em público e à vista de todos o que apenas os cães e os animais ousam fazer, ao passo que os homens normalmente o escondem. [...] Segundo, a vida cínica é uma vida de cão porque, como a dos cães, ela é indiferente. Indiferente a tudo o que pode acontecer, ela não se prende a nada, se contenta com o que tem, ela conhece apenas as necessidades que pode satisfazer ime- diatamente. Terceiro, a vida dos cínicos é uma vida de cão [...] por que é de alguma forma uma vida que ladra [...], uma vida capaz de bater-se, de ladrar contra os inimigos, que sabe distinguir os bons dos maus, os verdadeiros dos falsos [...]. Enfim, quarto, a vida cínica é [...] uma vida de cão de guarda, uma vida que sabe dedicar-se para salvar os outros e proteger a vida dos donos."
No Mundo de Sofia, Jostein Gaarder escreve sobre os cínicos:
"Conta-se que Sócrates parou certo dia em frente de uma banca onde
estavam expostas muitas mercadorias. Por fim, exclamou: "Vejam só de
quantas coisas os Atenienses precisam para viver!". Com isto, queria obviamente
dizer que ele não precisava dessas coisas.
A filosofia cínica, que foi fundada por Antístenes cerca do ano 400 a.C.
em Atenas, parte desta atitude de Sócrates. Antístenes tinha sido discípulo de
Sócrates.
Os “cínicos” defendiam que a verdadeira felicidade não dependia de
coisas exteriores, como o luxo material, o poder político e uma boa saúde. A
verdadeira felicidade significava não se tornar dependente dessas coisas
casuais e efêmeras. Precisamente por não repousar sobre essas coisas, a
felicidade podia ser alcançada por todos. E uma vez alcançada não se podia
voltar a perder.
O cínico mais conhecido era Diógenes de Sínope, um discípulo de
Antístenes. Conta-se que morava num tonel e que só possuía um manto, um bastão
e um saco para o pão. (Não era fácil roubar-lhe a sua felicidade!). Certo dia,
estava a tomar um banho de sol à frente do seu tonel quando Alexandre Magno o
visitou. Alexandre apresentou-se ao sábio e disse-lhe que lhe daria o que ele
desejasse. Diógenes pediu a Alexandre que não lhe tapasse o sol. Foi assim que
Diógenes demonstrou que era mais rico e mais feliz do que o grande homem. Tinha
tudo o que desejava.
Segundo os cínicos, o homem não se deve preocupar com a sua saúde, com a
dor e com a morte. Também não se devia atormentar com a dor dos outros. Hoje,
os termos "cínico" e "cinismo" exprimem quase sempre a
impassibilidade perante o sofrimento dos outros."
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