terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A Grécia de Sophia


FOI NO MAR QUE APRENDI
Foi no mar que aprendi o gosto da forma bela

Ao olhar sem fim o sucessivo

Inchar e desabar da vaga

A bela curva luzidia do seu dorso

O longo espraiar das mãos de espuma

Por isso nos museus da Grécia antiga

Olhando estátuas frisos e colunas

Sempre me aclaro mais leve e mais viva

E respiro melhor como na praia
Sophia de Mello Breyner Andresen 
(in Obra Poética - o Búzio de Cós e outros poemas)


O mar e a Grécia entrelaçam-se na obra de Sophia.
É a própria Sophia que o explica:
"...aquilo de que sempre mais gostei foi do Verão, da praia e das férias. No ano em que aprendi a ler, passei alguns dias numas termas [...] Como não tinha nada para ler, pedi à minha mãe que me comprasse um livro [...] e escolhi um que se chamava Mitologia Grega porque me fascinei com as fotografias de diversas estátuas. Lembravam-me o mar, qualquer coisa da claridade, da respiração do mar e do ritmo das ondas.”
Foram várias as viagens de Sophia à Grécia. A primeira foi em 1963 com Agustina Bessa-Luís e o marido. Voltou à  Grécia várias vezes, uma das quais também com Eugénio de Andrade.


"Chegada à Grécia
É Verão, de manhã, num barco entre Itália e Grécia. Sentada em cima de um molho de cabos, Sophia de Mello Breyner Andresen escreve na primeira página de um caderno escolar: "11 de Setembro de 1963. Navegamos sem um balanço. Mar azul, céu azul, ilhas azuis enevoadas." E então vê a ilha de Ulisses à sua frente: "Ítaca aparece, vai-se desenhando: verde, até ao mar, despovoada, quase sempre." É a sua primeira vez na Grécia. "Piso às quatro e meia a terra grega. Entrada maravilhosa à saída de Patras. Vamos rente ao mar entre oliveiras e ciprestes e montanhas azuladas. Calor leve, ar perfumado. As montanhas ligam a terra ao Olimpo. Paramos e vou molhar os pés, as mãos, os braços e a cara no mar. A água é maravilhosa, transparente e fresca. Bebo-a. É muito salgada. É a paisagem mais maravilhosa que vi na minha vida." Sophia tem 43 anos. Já leu a Grécia em Homero, nas tragédias de Sófocles, Ésquilo e Eurípedes, na História de Arte - mas agora está lá. Pode tocar-lhe, comê-la à beira da estrada com queijo de cabra, tomate, pepino e azeitonas. Bebê-la no vinho branco de resina. Entrar na pedra como no mar: "De manhã voltei à Acrópole sozinha. Escrevi Sophia, Setembro de 1963, numa parede do Parténon, na frontaria, à direita, numa reentrância. Coisa bárbara e selvagem mas que tive de fazer."" (de Alexandra Lucas Coelho, com base nos cadernos de viagem de Sophia).

"A considerável influência que Sophia sofreu da cultura da Grécia Antiga, seja durante o tempo dos seus estudos, seja durante as suas viagens pelo Mediterrâneo, causa que nos seus versos apareçam Orfeu e Eurydice, Dionísos, Endemyion, Electra, Ariadne, Antínoo, ou as Parcas, entre outros. Também as localidades designadas, por exemplo, Creta e a cidade Cnossos, Delfos ou Ítaca patenteiam o seu encantamento por estes lugares como representantes de um mundo original ao qual tende regressar." (Klára Šimečková)

O Centro Nacional de Cultura organizou em 2013 uma viagem à Grécia de Sophia. Sobre essa viagem Alberto Vaz da Silva escreveu várias crónicas. Podem ler-se aqui. Eis o itinerário:







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