Endechas a uma cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbara
Poema de Luis de Camões, Música de Zeca Afonso, Intérprete: Zeca Afonso (pode ouvir-se aqui)
Aquela
cativa
que me tem
cativo,
porque
nela vivo
já não
quer que viva.
Eu nunca
vi rosa
em suaves
molhos,
que para
meus olhos
fosse mais
fermosa.
Nem no
campo flores,
nem no céu
estrelas
me parecem
belas
como os
meus amores.
Rosto
singular,
olhos
sossegados,
pretos e
cansados,
mas não de
matar.
Uma graça
viva,
que neles
lhe mora,
para ser
senhora
de quem é
cativa.
Pretos os
cabelos,
onde o
povo vão
perde
opinião
que os
louros são belos.
Pretidão
de Amor,
tão doce a
figura,
que a neve
lhe jura
que
trocara a cor.
Leda
mansidão,
que o siso
acompanha;
bem parece
estranha,
mas
bárbara não.
Presença
serena
que a
tormenta amansa;
nela,
enfim, descansa
toda a
minha pena.
Esta é a
cativa
que me tem
cativo;
e, pois
nela vivo,
é força
que viva.
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