segunda-feira, 7 de maio de 2012

Aquela cativa...


Endechas a uma cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbara
Poema de Luis de Camões, Música de Zeca Afonso, Intérprete: Zeca Afonso (pode ouvir-se aqui)
Aquela cativa
que me tem cativo,

porque nela vivo

já não quer que viva.

Eu nunca vi rosa

em suaves molhos,

que para meus olhos

fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,

nem no céu estrelas

me parecem belas

como os meus amores.

Rosto singular,

olhos sossegados,

pretos e cansados,

mas não de matar.

Uma graça viva,

que neles lhe mora,

para ser senhora

de quem é cativa.

Pretos os cabelos,

onde o povo vão

perde opinião

que os louros são belos.

Pretidão de Amor,

tão doce a figura,

que a neve lhe jura

que trocara a cor.

Leda mansidão,

que o siso acompanha;

bem parece estranha,

mas bárbara não.

Presença serena

que a tormenta amansa;

nela, enfim, descansa

toda a minha pena.

Esta é a cativa

que me tem cativo;

e, pois nela vivo,

é força que viva.

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