Muitos consideram que os maiores compositores de todos os tempos foram Bach (1685-1750), Mozart (1756-1791) e Beethoven (1770-1827). Será que desde Beethoven não terá havido qualquer outro que se possa considerar no mesmo patamar que aqueles três compositores? Ou será que a generalidade das pessoas ainda não está preparada para apreciar adequadamente a música composta depois de Beethoven?, isto é, será que o gosto musical da generalidade das pessoas está atrasado 184 anos?
Dos compositores posteriores a Beethoven, destaco Mahler (1860-1911). Ele próprio disse: “O meu tempo chegará”. Chegou agora, 100 anos após a sua morte, que se completam no próximo dia 18 de Maio.
A sua música é o espelho da sua personalidade. Por vezes melancólica, outras exaltante, sempre arrebatadora. Segundo Leonard Bernstein: “Na essência, toda a música de Mahler é sobre Mahler, ou seja, sobre conflitos. Mahler, o criador, versus Mahler o executante; o judeu versus o cristão; o crente versus o homem que duvida; o provinciano da Boémia versus o homem sofisticado do mundo vienense.”
O exemplo mais conhecido da melancolia na sua música (que existia também na sua vida) é o Adagietto da sua 5ª Sinfonia. Esta composição é, hoje, indissociável da “Morte em Veneza” de Thomas Mann, associação consagrada no filme de Luchino Visconti. Tanto na novela como na composição musical, a melancolia, associada à inquietação - e portanto cheia de energia -predomina. Podemos escutá-la aqui, numa extraordinária interpretação da Orquestra Sinfónica de Viena, dirigida por Leonard Bernstein. Mahler encerra, com chave de ouro, o período romântico e estabelece a base sobre a qual será construída a música do século XX.
A música de Mahler, muitas vezes perturbadora, também foi utilizada no filme Shutter Island de Martin Scorsese: Quarteto para Piano e Cordas em Lá menor.
A obra de Mahler reflecte o facto de que ele próprio oscilou entre a euforia e a depressão. Nem todas as obras têm um carácter melodramático. Exemplo disso é a Primeira Sinfonia, cujo 4º andamento (que podemos escutar aqui), serviu de inspiração a John Williams para a banda sonora da Guerra das Estrelas.
Mahler considerava-se três vezes apátrida: "como boémio na Áustria, como austríaco entre os alemães e como judeu em todo o mundo".
Freud, que chegou a tratá-lo numa única sessão de quatro horas, considerou-o "um homem genial" e confessou-se fascinado com o "misterioso edifício da sua personalidade".
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