Macbeth (1948): Macbeth (Welles) e Lady Macbeth (Jeanette Nolan)
A
história de Macbeth é intemporal, e tão relevante hoje, em que cada dia há
massacres de inocentes, como no dia em que Shakespeare a apresentou ao rei Jaime
I, por ocasião da visita do rei da
Dinamarca, em 1606. A tragédia de Macbeth é uma análise política de um golpe de
estado e das suas consequências: os efeitos psicológicos e desintegração da
personalidade quando entregue às forças malignas, sem
esperança de redenção.
Mas
Macbeth também é um thriller com um desenrolar rápido, intenso, cheio de humor
e vulnerabilidade no meio da brutalidade e forças do sobrenatural.
Pela
sua força e complexidade, ‘Macbeth’ é comparável a outras grandes obras de
Shakespear, como ‘Hamlet’ e ‘Romeu e Julieta’. As paixões que estão em cena
tornam-nos a todos cúmplices e críticos dos Macbeth, o casal de nobres capazes de
matar o seu rei. Sentimo-nos, simultaneamente, repelidos e atraídos por eles. O
que pretendiam com tão terrível crime? Que impulsos, interiores ou exteriores,
os conduziram a tal desenlace?
Uns
vêem na peça um retrato da ambição política na sua forma mais primitiva;
outros, uma fábula sobre a irracionalidade do mal, ou sobre o encontro com os
limites quase visíveis da vida e da morte, e sobre os poderes negativos e
positivos da nossa ânsia de sobrevivência; outros ainda um braço de ferro entre
as forças do feminino e do masculino, que transcende os motivos mais aparentes
da fábula histórica.
Tal
como Macbeth, todos temos a angústia de saber mais sobre a nossa vontade.
Queremos saber quem governa. Se temos nós a primazia, ou os outros, que nos
fazemfrente, pela força ou pelos afectos. Ou outras forças ainda, que
desconhecemos em nós, ou nos cercam. Vivemos por nós, ou somos vividos por
forças que nos empurram a cada escolha? E esse saber, de que nos serviria, na
hora de julgarmos os nossos actos.
(texto da autoria de Maria Mesquita, publicado no n.º 179 da revista do Inatel "Tempo Livre")