segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Michel de Montaigne


Michel de Montaigne nasceu no dia 28 de Fevereiro de 1533. Há 478 anos! Fundou um género literário - o ensaio. A sua obra Ensaios foi publicada em 1580, ano da batalha de Alcácer Quibir. E, no entanto, quanta actualidade no que escreve!
Disse José Saramago: "Os escritores a que estou sempre a voltar são Montaigne, Pessoa e Kafka".
Nos Ensaios (obra muito mais vasta do que os três ensaios da publicação a que o link dá acesso), Montaigne citava frequentemente os clássicos. Três excertos:

“A nossa vida, dizia Pitágoras, assemelhava-se à grande e populosa assembleia dos Jogos Olímpicos. Uns exercitam o corpo para conquistar a glória dos jogos; outros levam suas mercadorias para vender e ganhar. Outros há, e não são os piores, que não pretendem mais proveito senão o de ver como e porquê cada coisa é feita e ser espectadores da vida dos outros homens para assim julgarem e regularem a sua.”

"Perguntamos logo: “Sabe grego? Sabe latim? Escreve em verso? Escreve em prosa?” Mas se se tornou melhor e mais avisado, eis o que é principal e o que fica sempre para trás. Era preciso perguntar quem sabe melhor e não quem sabe mais. Trabalhamos apenas por encher a memória e deixamos vazios o entendimento e a consciência."

"Fora com a violência e a força; não há nada, em minha opinião, que mais abastarde e dormente uma natureza generosa. Se tendes vontade de que tema a vergonha e o castigo, não o calejeis neles."

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Originalidade irlandesa

Os dois principais partidos da Irlanda são o Fianna Fáil e o Fine Gael, ambos de centro-direita. Os dois partidos surgiram na sequência da divisão que ocorreu, no final da Guerra da Independência da Irlanda, entre os adeptos do Tratado que instituiu a divisão da Irlanda, liderados por Michael Collins, e os que a ele se opunham. Os primeiros viriam a dar origem ao Fine Gael e os segundos ao Fianna Fáil. Para além dessa diferença, hoje com um carácter histórico, mas ainda presente em alguns meio, principalmente rurais, as diferenças entre os dois partidos não são muito claras. No Parlamento Europeu, o Fianna Fáil está integrado na Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa e o Fine Gail no Partido Popular Europeu. Relativamente aos programas eleitorais, ambos apresentaram como objectivo a redução do défice público para 3% em 2014, enquanto o Partido Trabalhista propunha que esse objectivo fosse atingido apenas em 2016. Havia divergências relativamente à forma como reduzir o défice: o Fine Gael propunha que 75% da redução fosse conseguida através de cortes na despesa pública e 25% por aumento de impostos; o Fianna Fail defendeu 66% e 33%, respectivamente, e os trabalhistas: 50% e 50%.

Segundo uma sondagem à boca das urnas, os resultados das eleições realizadas na sexta-feira passada são:

Fine Gael (Enda Kenny ) - 36,1 (27%)

Partido Trabalhista (Eamon Gilmore) - 20,5% (10%)

Fianna Fáil (Michéal Martin) - 15,1% (42%)

Sinn Fein (Gerry Adams) - 15,1% (7%)

Partido Verde (John Gormley) - 2,7% (5%)

Entre parênteses: os líderes actuais e as percentagens obtidas pelos partidos nas anteriores eleições.

Tudo indica que o próximo governo resultará de uma coligação do Fine Gael com o Partido Trabalhista. As diferenças que se venham a verificar entre o futuro governo e o actual serão determinadas mais pela aliança com os trabalhistas do que pelas diferenças ideológicas entre o Fine Gael e o Fianna Fáil.

Os partidos actualmente no governo: Fianna Fáil e Partido Verde foram pesadamente castigados, fundamentalmente devido à intervenção do FMI e consequente implementação das suas medidas.

Perante este descalabro eleitoral é mais fácil compreender porque é que alguma direita, em Portugal, defende a intervenção do FMI, desde já. E porque não está Passos Coelho interessado em provocar eleições já, por não querer correr o risco de que o FMI venha a intervir num momento em que ele próprio esteja no poder.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Irish coffee

25 ml de whiskey irlandês
45 ml de café expresso quente
18 ml de natas batidas
1 colher de chá de açúcar mascavado
Aqueça a caneca de vidro. Misture o açúcar, o whiskey e o café bem quente. Coloque, por cima, as natas batidas e, para que se não misturem com o resto, deite as natas devagar sobre as costas de uma colher aquecida. Não misture e beba a parte quente através da camada de natas frias.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Não nos iludamos, o Islão não se converterá ao nosso modelo e é ilusão pensar que o está fazendo


Muito lúcida a análise feita por Eduardo Lourenço, relativamente às revoluções islamistas, que foi objecto de artigo no Público de 21 de Fevereiro (segunda-feira).

Alguns excertos que não dispensam a leitura de todo o artigo.

“No fundo, a nossa euforia e natural alegria com o Abril islâmico, vendo bem, é uma versão inconsciente da eterna vocação de querer “converter” ou ilustrar os famosos infiéis.”

“Não nos iludamos, o Islão não se converterá ao nosso modelo e é ilusão suma pensar que o está fazendo. Porque o faria? Porque perderia o que ele pensa ser a sua alma e em troca de quê?”

“... a recente acção politica e guerreira dos Estados Unidos – ampliando a nossa – converteu o espaço islâmico em espaço privilegiado da sua acção no mundo. Ou melhor, da sua politica de vocação universal, como vencedor incontestável da II Guerra Mundial, substituindo o clássico imperialismo inglês em nome do seu democratismo messiânico. Quer dizer, dos seus interesses, assumidos como sendo os da própria Democracia. Do Irão de Mossadegh ao Iraque de Saddam Hussein, essa política justificada por imperativos vitais (petróleo) ao serviço da maior democracia do Ocidente afastou-nos e alienou-nos ainda mais desse mundo islâmico. Entre a osmose com Israel e a aliança privilegiada com a Arábia Saudita ficava hipotecada a nossa mais antiga e sempre difícil relação com o Islão. E assim se mantém.”

"Em suma, rebelaram-se, em função de valores e referencias próprias, de uma cultura de que são orgulhosos, ética e religiosamente não contestada, por impensavelmente incontestável.”

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fábula de Veneza

A Veneza que é divulgada, para consumo de potenciais turistas, é a Veneza dos canais e das gôndolas. Depois de ter estado em Veneza (pela 1ª vez, quando tinha 24 anos), fiquei com uma ideia completamente diferente da cidade. A cidade tem uma rede de vias pedonais – ruas, ruelas e praças – pelo menos, tão importante como a rede de canais, como se fossem duas malhas sobrepostas mas desencontradas. O que encontrei de singular em Veneza foram as pequenas praças com um poço no meio. São os “campi” (praças de média dimensão) e os “campielli” (praças de pequena dimensão). Hoje, é esta a imagem que associo a Veneza: a pequena praça com um poço no meio e gatos por ali.

Quando li o livro "Fábula de Veneza" - uma das Aventuras de Corto Maltese - pensei: cá está! Veneza é isto!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Nina Simone

Nina Simone nasceu no dia 21 de Fevereiro de 1933. Já não está entre nós mas ainda não foi esquecida! Nem o será tão cedo.
Interpretação de I wish I knew how it would feel to be free em 1976, em Montreux.
Grande interpretação! Música muito sentida! A música sai do seu íntimo.

Vale a pena dar atenção à letra:

I wish I knew how
It would feel to be free
I wish I could break
All the chains holding me
I wish I could say
All the things that I should say
Say 'em loud say 'em clear
For the whole round world to hear
I wish I could share
All the love that's in my heart
Remove all the bars
That keep us apart
I wish you could know
What it means to be me
Then you'd see and agree
That every man should be free

I wish I could give
All I'm longin' to give
I wish I could live
Like I'm longin' to live
I wish I could do
All the things that I can do
And though I'm way over due
I'd be starting a new

Well I wish I could be
Like a bird in the sky
How sweet it would be
If I found I could fly
Oh I'd soar to the sun
And look down at the sea
Than I'd sing cos I know - yea
Then I'd sing cos I know - yea
Then I'd sing cos I know
I'd know how it feels
Oh I know how it feels to be free
Yea Yea! Oh, I know how it feels
Yes I know
Oh, I know
How it feels
How it feels
To be free

5 minutos de jazz

No dia 21 de Fevereiro 1966, foi emitido o 1º programa "5 minutos de jazz". Faz hoje 45 anos! É o programa diário - de segunda a sexta - mais antigo da rádio portuguesa. Grande divulgador de jazz, grande comunicador e pessoa de grande simplicidade. Há uns anos enviei-lhe um email. Não o conhecia pessoalmente mas tinha uma questão a colocar-lhe. Respondeu-me assinando Zé Duarte.

A notícia na RTP do 45º aniversário do "5 minutos de jazz".

De registar que doou a sua magnífica colecção de discos e cd's de jazz à Universidade de Aveiro, onde é professor.

Pode fazer-se o download de 1h 13m 5s de música seleccionada por José Duarte.

Para quem lhe quiser enviar os parabéns, o seu endereço electrónico é: joseduarte@ua.pt

Longa vida ao programa e ao seu autor!

Ama como a estrada começa


Mário Cesariny escreveu este poema de um só verso que, para além da grande sensibilidade que mostra, demonstra um enorme poder de síntese.

De Mário Cesariny, também gosto muito deste poema:

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco

conheço tão bem o teu corpo

sonhei tanto a tua figura

que é de olhos fechados que eu ando

a limitar a tua altura

e bebo a água e sorvo o ar

que te atravessou a cintura

tanto, tão perto, tão real

que o meu corpo se transfigura

e toca o seu próprio elemento

num corpo que já não é seu

num rio que desapareceu

onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco

Este poema, dito por Diogo Varela Silva, pode ser ouvido no filme realizado por Diogo Varela Silva, com os actores André Gago e Maria Zamora (agradeço a André Gago a rectificação).


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Inês Pedrosa

Ontem, soube que o Expresso tinha dispensado os serviços de Inês Pedrosa. Fiquei chocado! Há mais de um ano que lia sempre a Crónica Feminina de Inês Pedrosa. E lia-a com gosto. Os assuntos tratados interessavam-me particularmente e a forma como os tratava cativavam a minha atenção. Vou recordar algumas frases escritas por Inês Pedrosa nas suas crónicas:

- “As palavras são faróis acesos contra a escuridão da violência.”

- “Só o sexo atenta contra o nosso pudor. Triste país."

- “Quando a má-língua for modalidade olímpica, não haverá quem nos roube o pódio inteiro.”

- “Políticos sem palavra nem respeito pelos outros matam a política.”

- "A vida não é previsível. O futuro dos nossos filhos também não – a não ser que o encolhamos de pânico, como agora estamos a fazer.”

Escrevia sobre Cinema, Literatura, Filosofia, Assuntos Sociais, exprimindo as suas opiniões de forma livre e não condicionada às linhas de força do momento. Bateu-se pelos direitos das mulheres e das crianças e pela não discriminação dos homossexuais.

O Expresso dispensa os seus serviços e o título da sua última crónica é “Obrigada”.

Inês Pedrosa, sei que a vou reencontrar noutro jornal ou revista.

Expresso, não me apetece nada continuar a comprá-lo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Museu dos Descobrimentos


Está a ser construído em Lisboa o novo Museu dos Coches. Com projecto do Arquitecto Paulo Mendes da Rocha, o sucesso está garantido. Acontece que o Museu dos Coches já era um caso de sucesso: é um dos museus mais visitados de Portugal e o mais visitado de Lisboa. Então, como era um museu tão visitado, resolveram dar-lhe instalações de maior qualidade. Opção discutível. Não teria sido melhor criar um outro museu?

Em Estocolmo, há um museu que é um extraordinário caso de sucesso: o Museu Vasa. É o museu mais visitado dos países escandinavos. Visitei-o há uns anos. O que é mais curioso é que este caso de sucesso nasceu a partir de um fracasso monumental. A 10 de Agosto de 1628 (o rei de Portugal era Filipe III), o Vasa parte do porto de Estocolmo, para a sua viagem inaugural. Depois de percorrer 1300 metros afundou-se. O Vasa permaneceu 333 anos no fundo do mar e as águas frias e salobras contribuíram para que tivesse sido encontrado em muito bom estado de conservação. O navio é imponente em dimensão e em ornamentação mas o museu não se limita a mostrar o navio. É mostrado como se vivia naquela época, como se vestiam as pessoas, como se construíam navios, quais as relações da Suécia com os países vizinhos, são explicadas as razões do naufrágio do Vasa à luz da Física... Assim, os conhecimentos que se adquirem numa visita vão desde a História à Estática, passando pela Antropologia. Meritória esta transformação de um fracasso num caso de sucesso. Fez-me lembrar a nossa sopa da pedra, apesar de que o Vasa era já uma rica pedra, já em si muito saborosa.

Voltando aos nossos museus. Por que não, em vez de se construir um novo edifício para o já existente Museu dos Coches, construir um novo museu? E esse novo museu seria o Museu dos Descobrimentos. Esta ideia, que eu apoio, já tem sido defendida publicamente pelo meu amigo Manuel Matos Fernandes. E, acerca dos descobrimentos, quanto haveria para contar! E os Descobrimentos Portugueses nem sequer foram um fracasso.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Marcel Duchamp

Hoje, na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, é inaugurada a exposição Duchamp: A Arte de Negar a Arte que ficará patente até 12 de Junho. O pintor e escultor francês Marcel Duchamp viveu de 1887 a 1968. Pode ler-se no site da Fundação Eugénio de Almeida (http://www.fundacaoeugeniodealmeida.pt/):
"Tido como um dos precursores da arte conceptual e um dos principais impulsionadores do movimento do Dadaísmo, corrente artística que rompe com as formas de arte tradicionais e defende a espontaneidade e o absurdo, Duchamp é considerado um dos artistas mais influentes da história de Arte Moderna."
André Breton disse que Marcel Duchamp era um dos homens mais inteligentes do século e que era, para muitos, o mais incómodo.
Interessante o excerto de uma entrevista concedida por marcel Duchamp a Pierre Cabanne:

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Samba em Prelúdio, nome estranho!

Extraordinária a história do nascimento de "Samba em Prelúdio", da autoria de Baden Powell (música) e Vinicius de Moraes (letra). É o próprio Baden Powell que nos conta a história do seu (da música) nascimento. Nem sei mesmo o que é melhor: se a própria história ou se a maneira como é contada.

A história contada, com muito carinho, por Baden Powell:

http://www.youtube.com/watch?v=khAYr4GbUqU&feature=related

A música:

http://www.youtube.com/watch?v=_RzuC5ttoFw

Dizia Vinicius de Moraes que a música, com que Baden Powell lhe apareceu em casa, era plágio de um Prelúdio de Chopin. Vinicius estava enganado mas talvez se referisse ao seguinte Prelúdio de Heitor Villa Lobos:

http://www.youtube.com/watch?v=tywBXGeM-OQ&feature=related

Disse Vinicius de Morais:

- Então quer dizer que não é Chopin, não?

- Não.

- Então Chopin esqueceu de fazer essa!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Orlando Ribeiro: "Homem sou, nada do que é humano me é alheio!"

Foto retirada de http://www.orlando-ribeiro.info/

Faz hoje 100 anos que nasceu Orlando Ribeiro. Grande renovador da Geografia em Portugal, é fundamental o seu livro "Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico". Usando uma metodologia científica de análise, caracterizou a diversidade de que Portugal se compõe, sob as influências do Atlântico e do Mediterrâneo.

Apaixonado pela música, tinha uma predilecção pelo Adágio da 7ª Sinfonia de Anton Bruckner:

http://www.youtube.com/watch?v=Uxt7VAmfVLk

http://www.youtube.com/watch?v=yF0Utolh_d0&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=9hZsSorveW8&feature=related

Grande a serenidade que transmite!

Do site que lhe é dedicado: (http://www.orlando-ribeiro.info/home.htm) retirei uma transcrição do seu livro “Memórias de um Geógrafo”:

“A minha Geografia humana – ou antes, a face humana da Geografia – é feita com todos os sentidos: a visão que abrange os conjuntos e discerne e analisa pormenores significativos, o ouvido que surpreende o tilintar distante do rebanho ou o barulho agressivo da circulação mecânica, o cantar dos galos que anuncia o lugar próximo ou o silêncio de aldeias hindus, onde não se criam animais para o pecado de matá-los, o odor inconfundível dos bazares muçulmanos, composto principalmente do aroma das especiarias, que também se sente nos mercados do Brasil ou do México, o cheiro a mijo do deserto por onde passou ou acampou a caravana, o fartum estival da multidão comprimida no metropolitano, o incomparável acetinado das peles pretas sobre que tantas vezes estala o chicote [...], os sabores da cozinha popular, onde, como na Bahía, se combinam ingredientes originários das três partes do mundo – ponto de partida para o estudo de encontro e sedimentação de civilizações. Homo sum: humani nihil a me alienum puto! (homem sou, nada do que é humano me é alheio!)

Georges Dussaud

Trás-os-Montes, 1981. O autor é Georges Dussaud, fotógrafo francês com muitas fotografias feitas em Portugal: Trás-os-Montes, Porto, Alentejo... O meu percurso. Coincidência! A fotografia, essa não precisa de comentários, até porque os adjectivos existentes não são suficientes.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Portugal acima da linha de água

Do site do jornal El País:
"La media anual de 2010 deja a España en el grupo de cinco países que aún no han abandonado las caídas de PIB. La más pronunciada se ha producido en Grecia (-4,5%), seguida de Rumanía (-1,8%), Irlanda (algo inferior al -1%, a falta de conocer los datos del último trimestre) y Letonia (-0,4%). España es el país que más cerca está de la recuperación, tras cerrar 2010 con un descenso de una décima interanual de PIB."
A imprensa portuguesa podia publicar este gráfico. Torna-se mais simples ler os números em gráficos do que em frases.

É urgente destruir crueldade


Pode ler-se no site da Câmara Municipal de Évora que o brasão da cidade representa “um cavaleiro armado de prata, realçado de azul, galopando em cavalo negro e empunhando uma espada de prata ensanguentada; em contra-chefe duas cabeças de carnação, caídas e cortadas de sangue, uma de homem à dextra e outra de mulher à sinistra toucadas de prata”. Tudo indica que o cavaleiro é Geraldo Sem Pavor, responsável pela conquista de Évora aos “infiéis”. As cabeças degoladas são, nitidamente, mouriscas. O sangue da espada também é, seguramente, mourisco.

Algumas manifestações de barbárie e de intolerância religiosa como: a escravatura, a pena de morte e a Santa Inquisição foram abolidos de Portugal, apesar da tradição. Mas essa mesma tradição não permite que a representação da carnificina seja suprimida do brasão da cidade de Évora.

Muito criticamos a barbárie dos outros, a intolerância religiosa dos outros, mas não nos vemos ao espelho. E se olhássemos para o espelho, o que veríamos? Talvez não víssemos grande coisa. É que “o maior cego é aquele que não quer ver”.

Como escreveu Eugénio de Andrade: "É urgente destruir ... ódio ... crueldade, ... muitas espadas".

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Urgentemente

(Foto de mural da Escola EB2/3 de Paranhos, autor da foto desconhecido)

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer

Eugénio de Andrade

Muito amor e pouco consumo!

Em 1969 saiu o single de Jane Birkin e Serge Gainsbourg “Je t’aime moi non plus”. As atenções centraram-se de tal maneira no lado A do single que o lado B quase passou despercebido. A música do lado B é lindíssima, é da autoria de Chopin.

Podemos, talvez, começar por ouvir a adaptação de Serge Gainsbourg, intitulada Jane B.

http://www.youtube.com/watch?v=bbUUwJxpW88

E, a seguir, a música original - o Prelúdio Op. 28, No. 4 - tal como foi composta por Frédéric Chopin:

http://www.youtube.com/watch?v=ef-4Bv5Ng0w

Que esta música seja inspiradora de bons sentimentos.

Feliz dia dos namorados, com muito amor e pouco consumo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Sol no seu esplendor!

Esta imagem do Sol foi obtida no âmbito do projecto Stereo, da NASA. Apesar de impressionante, não consegue transmitir-nos a sua grandiosidade. Quando sentimos o seu calor temos uma melhor noção do seu poder.

A Terra recebe do Sol, durante um ano, mais de 1,5 triliões de quilowatts-hora, ou seja, 1500000000000000 kWh. Esta energia representa, aproximadamente, 10 000 vezes a energia consumida pela população mundial no mesmo período. Por estes números é fácil concluir das enormes potencialidades da energia solar. Para termos uma noção da grandeza do Sol: o diâmetro do Sol é 1.390.600 km (Terra: 12.756 km); a sua massa representa 99,8% da massa de todo o sistema solar. Sobre a superfície do Sol uma pessoa, que na Terra pesa 70 kg, pesaria 2 toneladas - não seria fácil deslocar-se (se não derretesse). Admirável!

Os egípcios que, no Egipto Antigo, o adoravam sob o nome de Rá, lá tinham as suas razões para o considerarem o mais importante deus.

Assim vai o mundo!

Há uns dez/doze anos, ouvia Sena Santos todas as manhãs na Antena 1. Gostava de o ouvir - ouvia-o, praticamente, todos os dias - tanto pelas notícias que seleccionava, citando jornais de todo mundo, como pelo ritmo vertiginoso que impunha no relato que fazia dessas notícias. Recordo-me que ele tinha alguma predilecção pelos jornais: Tribune de Genève e El Clarín de Buenos Aires. Foi nessa altura que comprei um rádio para a casa de banho para o poder ouvir enquanto me lavava. Sena Santos saiu da Antena 1 e durante um anos deixei de ouvir falar dele. Senti a falta da sua voz.

Cada vez ouço menos os notíciários da televisão. Alguém disse que mentes grandes discutem ideias, mentes medianas discutem acontecimentos e mentes pequenas discutem pessoas”. Tenho sentido que os noticiários das nossas televisões estão ao nível das mentes pequenas. Por isso, cada vez os ouço menos. Além disso, esses noticiários têm uma atracção pela lama. Como um veículo vulgar, patinam, patinam na lama e não avançam. Chegam a passar um noticiário a falar, por exemplo, do assassinato de Carlos Castro, como se, entretanto, o mundo tivesse parado e não tivesse sucedido nada digno de registo.

Há uns três anos voltei a encontrar a voz de Francisco Sena Santos no endereço: http://senasantos.podcasts.sapo.pt/ Os “episódios” que apresenta são diários, uns dez minutos diários. Continua a ser uma boa companhia, agora já não ao levantar mas, geralmente, enquanto faço a minha caminhada. Pessoalmente, prefiro quem, em vez de se andar a arrastar na lama, sobe ao cimo da gávea e de lá me diz: "Assim vai o mundo".

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Salvemos a pele!

Não, não é um apelo ao salve-se quem puder. Mas de que pele é que estou a falar? Hundertwasser dizia que o homem tinha cinco peles: a epiderme, o vestuário, a casa, o meio social e a Terra. Hundertwasser é o pseudónimo escolhido por Friedrich Stowasser, pintor e arquitecto austríaco que viveu entre 1928 e 2000. A teoria das cinco peles era uma forma de teorizar a necessidade do homem viver em harmonia com o meio ambiente. Foi um pioneiro da arquitectura bioclimática. Os edifícios por ele projectados eram normalmente cobertos por vegetação e dava uma grande importância às janelas que dizia eram como os poros que furam a epiderme. Vanguardista, não foi completamente compreendido na época em que viveu. Agora, voltando ao título. Eu estava a referir-me à nossa 5ª pele. Salvemos a pele, ou seja, salvemos a Terra!


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

I have a dream

Amanhã, 11 de Fevereiro, comemora-se o fim do "apartheid". Foi há 21 anos que Nelson Mandela foi libertado. Tinha sido preso em 1962 por lutar contra o apartheid. Em 1990 foi libertado. Em 1993 recebeu o prémio Nobel da Paz. De 1994 a 1999 foi Presidente da África do Sul. Podemos dizer que foi preso e foi Presidente, exactamente, pelas mesmas razões.

Vale a pena recordar um episódio que foi um marco na luta contra o racismo. Estamos em Montgomery, capital do Alabama, um dos estados dos Estados Unidos da América. É dia 1 de Dezembro de 1955 e Rosa Parks, uma costureira negra, viaja num autocarro. Vai sentada. Entra um branco no autocarro e Rosa Parks não se levanta para lhe ceder o lugar. Normal? Depende do lugar e da época. Está consciente de que não está a cumprir a lei e, por isso mesmo, não se levanta para ceder o seu lugar. É presa. Na mesma cidade vivia Martin Luther King. Era ele que dizia “I have a dream”. Pode dizer-se que o sonho de Martin Luther King se concretizou 55 anos depois: o Presidente da República dos Estados Unidos da América é negro.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A grande música



Normalmente designada por música clássica, tempos houve em que havia quem a designasse por “música séria”. Muito infeliz esta última designação. Então quando se ouve a obra Danzon n°2, do compositor mexicano Arturo Marquez (n. 1950), interpretada pela Orquestra Juvenil Símón Bolívar, da Venezuela, pensamos que uma designação apropriada é a usada por António Cartaxo: grande música. Gustavo Dudamel, que tem 30 anos de idade, dirigiu muito recentemente a Orquestra Filarmónica de Los Angeles (de que é maestro convidado pela segunda temporada consecutiva) em dois concertos realizados em Lisboa. Será que a música clássica é dançável? Esta é, sem dúvida.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Basta cheio!

O Capitão Archibald Haddock surge pela primeira vez no álbum "O Caranguejo das Tenazes de Ouro", o 9º dos 24 álbuns que constituem “As Aventuras de Tintim”. Uma cena impagável do Capitão Haddock passa-se no álbum “Estrela Misteriosa”, a 2ª história em que ele participa. O Capitão Haddock encontra o seu velho amigo, o Capitão Chester; este último propõe que entrem num bar para poderem conversar e pede uma garrafa de uísque. O Capitão Haddock, que se tinha tornado Presidente da Liga dos Marinheiros Anti-alcoólicos, é pressionado para beber água mineral. Tintim serve-o de água mineral mas, ainda só tinha um fundo no copo, diz que já chega; logo pede uma gota de uísque para fazer companhia ao seu amigo Chester. Quer só uma lágrima mas só diz que basta quando o copo está a transbordar. Depois de beber, acha que a água mineral daquele lugar é estupenda!


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Na Bélgica: mulheres ao poder!

MULHERES DE POLÍTICOS BELGAS FAZEM GREVE AO SEXO
por Patrícia Viegas
Iniciativa partiu da socialista flamenga Marleen Temmerman
A Bélgica caminha a passos largos para bater o Iraque em termos de recorde mundial de dias sem Governo e as iniciativas para forçar os políticos do país a um acordo multiplicam-se.
A última veio da socialista flamenga Marleen Temmerman, que propôs às mulheres desses mesmos políticos que façam greve de sexo enquanto eles não chegarem a um entendimento.
"Se nos pusermos todas de acordo sobre a abstinência sexual, talvez consigamos que as negociações avancem mais rápido. Já se sabe o que pensam os homens sobre essas coisas", disse a senadora em entrevista à rádio belga RTL.
A Bélgica está sem um Governo desde 13 de Junho de 2010, quando se celebraram legislativas antecipadas. O partido que mais votos recolheu foi a Nova Aliança Flamenga, do independentista flamengo Bart de Wever. Ele e o líder dos socialistas valões, Elio Di Rupo, não se conseguiram entender.
Agora digo eu: mulheres belgas ao poder, já que elas é que estão a demonstrar ter um mínimo de bom senso.

Ninguém é perfeito!

Diálogo entre Osgood (Joe E. Brown) e Daphne (Jack Lemmon) no final do filme “Quanto mais quente melhor “ (Billy Wilder, 1959):

Osgood: I called Mama. She was so happy she cried. She wants you to have her wedding gown. It's white lace.

Daphne: Yeah, Osgood. I can't get married in your mother's dress. Ha ha. That-she and I, we are not built the same way.

Osgood: We can have it altered.

Daphne: Aw no you don't! Osgood, I'm gonna level with you. We can't get married at all.

Osgood: Why not?

Daphne: Well, in the first place, I'm not a natural blonde.

Osgood: Doesn't matter.

Daphne: I smoke. I smoke all the time.

Osgood: I don't care.

Daphne: Well, I have a terrible past. For three years now, I've been living with a saxophone player.

Osgood: I forgive you.

Daphne: I can never have children.

Osgood: We can adopt some.

Daphne: But you don't understand, Osgood. Uh, I'm a man.

Osgood: Well, nobody's perfect.